O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, concedeu no domingo (24) um indulto humanitário ao ex-presidente Alberto Fujimori, hospitalizado desde sábado e que cumpre uma pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.
"O presidente da República, no uso das atribuições conferidas a ele pela Constituição Política do Peru para tais fins, decidiu conceder um indulto humanitário ao Sr. Alberto Fujimori e a outras sete pessoas que se encontram em condições semelhantes", afirmou a presidência em um comunicado.
Kenji Fujimori, congressista e filho mais novo de Fujimori, que defendeu publicamente o indulto de seu pai, foi o primeiro da família a agradecer o perdão presidencial.
"Gostaria de agradecer em nome da família Fujimori o presidente Pedro Pablo Kuczynski pelo nobre e magnânimo gesto de conceder ao meu pai Alberto Fujimori um indulto humanitário", escreveu Kenji em sua conta no Twitter.
A líder da oposição e filha do ex-governante, Keiko Fujimori, também agradeceu. "Hoje é um grande dia para a minha família e para o fujimorismo. Finalmente, meu pai está livre. Esse será um Natal de esperança e felicidade!!!", escreveu a líder do partido Força Popular, nas redes sociais.
O indulto e a graça presidencial por razões humanitários vem em resposta a um pedido apresentado na segunda-feira, 11 de dezembro, pelo próprio Alberto Fujimori perante o Instituto Nacional Penitenciário.
Fujimori foi examinado no domingo, 17 de dezembro, por uma junta médica que o avaliou na sede da Direção de Operações Especiais da polícia, onde estava preso desde 2007.
A referida junta "determinou que o Sr. Fujimori sofre de uma doença progressiva, degenerativa e incurável e que as condições carcerárias significam um sério risco para sua vida, saúde e integridade", ressaltou a presidência peruana em seu comunicado.
Protestos e dissidências
O indulto provocou o protesto das famílias de 25 vítimas assassinadas por esquadrões da morte do Exército durante o regime de Fujimori. Esse caso foi o que acabou levando Fujimori à prisão, após ser condenado como responsável pelos homicídios.
"Se você, Sr. Presidente, perdoar Fujimori sem o devido processo e sem uma junta médica imparcial, está viciando esse processo e atropelando o direito das famílias à justiça", escreveu Gisella Ortiz no Twitter.
"Lamento o indulto humanitário a Fujimori. Ao invés de reafirmar que, em um Estado de direito, não há tratamento especial para ninguém, ficará a ideia de que sua libertação foi uma mera negociação política em troca da permanência de Pedro Pablo Kuczynski no poder", denunciou José Miguel Vivanco, diretor da Americas Human Rights Watch.
"Outro indulto para uma pessoa condenada por crimes contra a humanidade. Não aprendemos mais na América. Triste noite", lançou Edison Lanza, relatora especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Em Lima, houve confrontos entre a polícia e mais de duzentos jovens que tentaram protestar em passeata até o Palácio do Governo. Os manifestantes carregavam fotos de algumas das vítimas da repressão do regime de Fujimori.
Estima-se que o perdão provocará mudanças no gabinete ministerial de Kuczynski, cujo partido Peruanos pela Mudança, minoria no Parlamento, está ainda mais enfraquecido pela deserção de um de seus legisladores.
Fujimori, de origem japonesa e 79 anos, governou o Peru de 1990 a 2000.
Desde sábado está hospitalizado devido a uma queda acentuada de sua pressão arterial (hipotensão) e uma arritmia cardíaca. Em setembro, ele sofreu um quadro semelhante. Fujimori também acumula seis operações na língua devido a uma lesão cancerosa.
Em frente à clínica Centenario Peruano Japonesa, onde está internado, dezenas de partidários espontâneos se reuniram para comemorar a liberdade do ex-presidente.
Fujimori continua a ser popular apesar dos abusos cometidos durante o seu regime. Muitos o reconhecem por ter conseguido derrotar os guerrilheiros do Sendero Luminoso e o MRTA e estabilizar a economia após a crise produzida sob o primeiro governo de Alan García (1985-1990).