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Conselheiro visita Moscou para retirada dos EUA de tratado nuclear

A visita, prevista há muito tempo, é a primeira em meses de um assessor de alto nível do presidente Donald Trump a Moscou

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Publicado em 22/10/2018 às 8:05
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A visita, prevista há muito tempo, é a primeira em meses de um assessor de alto nível do presidente Donald Trump a Moscou - FOTO: Mandel NGAN / AFP
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O conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional, John Bolton, se reunirá nesta segunda-feira (22) em Moscou com o chanceler russo, Serguei Lavrov, depois que Washington anunciou a intenção de abandonar um tratado sobre armas nucleares de médio alcance.

A visita, prevista há muito tempo, é a primeira em meses de um assessor de alto nível do presidente Donald Trump a Moscou. Oficialmente o objetivo é prosseguir diálogo iniciado em julho entre o presidente americano e seu colega russo, Vladimir Putin. Mas o anúncio de Trump, nesse sábado (20), de retirar os Estados Unidos do tratado INF (Intermediate Nuclear Forces Treaty) mudou a agenda.

Bolton será recebido por Lavrov às 19H00 (13H00 de Brasília), segundo a embaixada americana em Moscou. O presidente russo também receberá o assessor americano, mas o encontro não acontecerá nesta segunda-feira, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O americano também se reunirá com o diretor do Conselho de Segurança Nacional russo, Nikolai Patrushev.

Nesse domingo (21), a Rússia considerou um "passo perigoso" o anúncio do presidente americano de deixar de cumprir o tratado sobre armas nucleares de alcance intermediário assinado durante a Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados Unidos.

O último dirigente da União Soviética (URSS), Mikhail Gorbachev, que assinou o tratado de desarmamento INF (Intermediate Nuclear Forces Treaty) em 1987, denunciou uma "falta de sabedoria" do presidente Trump pediu "a todos que defendem um mundo sem armas nucleares" que convençam Washington a não avançar com o anunciado e "preservar a vida na Terra".

Trump anunciou no sábado que Washington contemplava deixar de cumprir o tratado INF, assinado por Ronald Reegan.

"Seria um passo muito perigoso que, tenho certeza disso, não será compreendido pela comunidade internacional e, inclusive, vai gerar sérias condenações", afirmou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov.

Trump acusa a Rússia de violar o tratado "há muitos anos" e anunciou que os Estados Unidos começarão a desenvolver estas armas. Riabkov rebateu as acusações e disse que Moscou repeita o texto de "maneira estrita". "Fomos pacientes durante anos ante as flagrantes violações do tratado pelos Estados Unidos", afirmou.

O vice-ministro acusou Washington de atuar de modo "torpe" e de abandonar unilateralmente acordos internacionais. Se o governo dos Estados Unidos continuar assim, "então não teremos outra opção que adotar medidas de represália, inclusive que envolvam tecnologia militar", completou, sem entrar em detalhes.

Pressão

De acordo com o jornal britânico The Guardian, o próprio Bolton teria pressionado Trump a anunciar a saída do tratado INF. Também estaria bloqueando qualquer negociação para prorrogar o tratado New Start sobre mísseis estratégicos, que expira em 2021.

O governo Trump critica a instalação por Moscou do sistema de mísseis 9M729, cujo alcance, segundo Washington, supera 500 km, violando assim o texto do INF.  O tratado, que suprime o uso de toda uma série de mísseis com alcance entre 500 e 5.000 km, encerrou uma crise iniciada nos anos 1980 pela instalação dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares, que apontavam para capitais ocidentais.

Moscou respondeu as acusações americanas com outras acusações. Riabkov citou uma "chantagem" e uma fonte do ministério das Relações Exteriores afirmou que Washington "vem se aproximando desta etapa há vários anos, deliberadamente destruindo a base deste acordo passo a passo".

A medida americana poderia ser motivada por uma suposta ameaça da China. Pequim não faz parte do acordo INF e pode desenvolver sem obstáculos armas nucleares de alcance intermediário.

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