A justiça japonesa decidiu prorrogar a detenção de Carlos Ghosn, CEO da aliança Renault-Nissan-Mitsubushi, enquanto o escândalo aumenta e ameça colocar em risco a governança de Nissan.
Um tribunal de Tóquio autorizou a prorrogação por 10 dias da detenção de Ghosn para a continuidade das investigações sobre supostas malversações. O executivo foi detido nessa segunda-feira (19) em Tóquio.
A Procuradoria o acusa de "conspirar para minimizar sua renda" em cinco ocasiões, entre junho de 2011 e junho de 2015, declarando um valor total de 4,9 bilhões de ienes (quase 37 milhões de euros), ao invés de 10 bilhões. Um de seus colaboradores, Greg Kelly, também teve a detenção prorrogada por 10 dias, até 30 de novembro.
A justiça japonesa também examina a abertura de processos contra o grupo Nissan, sob suspeita de ter fornecido documentos financeiros inexatos às autoridades nos quais Ghosn teria dissimulado parte de sua renda.
Bolloré assume o comando
Do lado francês, o conselho de administração da Renault nomeou Thierry Bolloré, número dois da empresa, para assumir as funções de Carlos Ghosn, que permanece como conselheiro delegado apesar da detenção.
Bolloré, 55 anos, que Ghosn escolheu como braço direito em fevereiro, assumiu a direção executiva "provisória" da montadora francesa e terá os mesmos poderes que o conselheiro delegado "impedido temporariamente".
A chave para a empresa francesa é "preservar os interesses da Renault e assegurar a perenidade da aliança" com as montadoras japonesas Nissan e Mitsubishi Motors. O conselho de administração da Nissan deve se pronunciar na quinta-feira sobre uma proposta de demissão de seu presidente.
A Mitsubishi Motors (MMC) prevê "a demissão rápida" após uma reunião do conselho na próxima semana, indicou um porta-voz da empresa.
Nessa terça-feira, o conselho de administração da Renault pediu a Nissan que "transmissão do conjunto de informações em sua posse sobre as investigações internas a respeito de Ghosn, pois não está em condições para pronunciar-se sobre os elementos que a Nissan e as autoridades judiciais japonesas têm sobre Ghosn".
Frágil equilíbrio
Além do destino de Ghosn, a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Motors — cujo frágil equilíbrio o executivo orquestrou - está na corda bamba após a detenção.
O caso explodiu no momento em que o CEO do complexo de 10,6 milhões de veículos trabalhava, segundo o jornal Financial Times, em uma fusão entre Renault e Nissan. A montadora japonesa rejeitou a operação e tentou bloquear a iniciativa por temer que seu status cairia para "segunda categoria", segundo o jornal.
Ghosn queria criar laços "irreversíveis" entre Renault e Nissan, afirmou Kentaro Harada, analista da SMBC Nikko Securities. "Não podemos descartar a possibilidade de enfraquecimento da aliança. A principal pergunta é se isto vai modificar o equilíbrio de poderes entre as partes", destacou.
A agência de classificação de risco Standard and Poor's anunciou que pretende reduzir a nota da dívida da Nissan a longo prazo justamente pelas dúvidas sobre a aliança. Preocupados em tranquilizar os mercados, os governos da França e do Japão reafirmaram em um comunicado o "grande apoio" à aliança.
As ações das três empresas caíram após o anúncio da detenção de Ghosn, mas nesta quarta-feira, a ação da Nissan registrou leve recuperação.