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Prêmios Nobel da paz fazem apelo pelas vítimas da violência sexual

Os vencedores do Prêmio Nobel da Paz pediram proteção às vítimas de violência sexual relegadas, segundo eles, por considerações econômicas

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Publicado em 10/12/2018 às 17:27
Foto: Heiko JUNGE / NTB SCANPIX / AFP
Os vencedores do Prêmio Nobel da Paz pediram proteção às vítimas de violência sexual relegadas, segundo eles, por considerações econômicas - FOTO: Foto: Heiko JUNGE / NTB SCANPIX / AFP
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Ao receberem o Prêmio Nobel da Paz nesta segunda-feira (10), o congolês Denis Mukwege e a yazidi Nadia Murad pediram o fim da indiferença e a proteção às vítimas de violência sexual, frequentemente relegadas, segundo eles, por considerações econômicas.

O ginecologista de 63 anos e a iraquiana de 25, uma ex-escrava do Estado Islâmico (EI) que se tornou porta-voz da minoria a que pertence, receberam o prêmio das mãos da presidente do Comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, que elogiou "duas das vozes mais poderosas do mundo atualmente" contra a opressão das mulheres.

Durante uma cerimônia pontuada por ovações, lágrimas e gritos, no Hotel da Cidade de Oslo, os dois premiados se dirigiram à comunidade internacional e pediram o fim da impunidade para os autores de violência sexual em tempos de guerra.

"Não são apenas os autores de violência que são responsáveis por seus crimes, mas também os que escolhem fechar os olhos", afirmou Denis Mukwege em seu discurso de agradecimento.

"Se for preciso fazer a guerra, façamos a guerra contra a indiferença que corrói nossas sociedades", completou.

Conhecido como o "homem que conserta as mulheres", o ginecologista trata há duas décadas das vítimas de violência sexual em seu hospital em Panzi, no leste da República Democrática do Congo(RDC), região atingida por uma violência crônica.

Em seu discurso com acentos políticos, este crítico do regime do presidente Joseph Kabila disse ter visto "as consequências dolorosas da má governança".

"Bebês, meninas, jovens mulheres, mães, avós e também homens e meninos, cruelmente violentados, muitas vezes em público e em grupos, inserindo plástico em chamas, ou introduzindo objetos contundentes, em seus genitais", relatou.

Sequestrada e torturada

Já Nadia Murad pediu à comunidade internacional que proteja seu povo e trabalhe pela libertação de milhares de mulheres e crianças que continuam nas mãos dos extremistas.

"Se a comunidade internacional deseja realmente ajudar as vítimas desse genocídio (...) deve lhes garantir uma proteção internacional", declarou esta jovem de 25 anos em seu discurso de agradecimento, pronunciado em curdo na prefeitura de Oslo, no qual considerou inaceitável que o mundo não faça mais para libertar os mais de 3.000 yazidis que o EI ainda mantém em seu poder.

Assim como milhares de mulheres yazidis, Nadia Murad foi sequestrada, violentada e torturada pelos extremistas após a ofensiva do EI contra esta comunidade do norte do Iraque, em 2014.

Nadia conseguiu fugir de seus sequestradores e, hoje, luta pelas mulheres e crianças - mais de três mil, segundo ela - ainda mantidos em cativeiro.

"É inconcebível que a consciência dos dirigentes de 195 países não tenha se mobilizado para libertar essas mulheres", frisou.

"Se tivesse se tratado de um acordo comercial, de uma jazida de petróleo, ou de um carregamento de armas, aposto que não se teria poupado esforços para liberá-las", afirmou.

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