EUA

Trump insiste no muro e diz estar 'preparado' para longa paralisação

A paralisação no governo teve início há duas semanas e o presidente norte-americano afirmou estar preparado para que ela se estenda por vários meses

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Publicado em 04/01/2019 às 20:15
Foto: Alex Edelman / AFP
A paralisação no governo teve início há duas semanas e o presidente norte-americano afirmou estar preparado para que ela se estenda por vários meses - FOTO: Foto: Alex Edelman / AFP
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O presidente americano, Donald Trump, voltou a defender com unhas e dentes seu projeto de erguer um muro na fronteira com o México, advertindo que está "preparado" para que a paralisação orçamentária, iniciada há duas semanas, se estenda por vários meses, inclusive mais de um ano. 

O presidente recebeu nesta sexta-feira (4) na Casa Branca a líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, para encontrar uma solução para a paralisação orçamentária, um dia depois da inauguração do novo Congresso em Washington.  

Em coletiva de imprensa, Trump descreveu as negociações como "muito, muito produtivas", embora a oposição tenha um relato menos otimista do encontro. 

O presidente americano qualificou a construção do muro na fronteira sul como uma questão de "segurança nacional" e afirmou que um acordo a respeito com a oposição democrata é possível. 

"Podemos consegui-lo através de um processo de negociação, tentemos", disse.

Confirmou, no entanto, declarações feitas na saída da reunião por Chuck Schumer, de que o presidente afirmou que a paralisação do governo federal poderia durar muito tempo, meses ou até mesmo anos. 

"Sim, eu disse isso", afirmou Trump. "Não acho que ocorra, mas estou preparado" para isso, afirmou.

As negociações sobre a paralisação do governo, um elemento de pressão poderoso na política americana, também são uma guerra de comunicação, na qual cada partido tenta responsabilizar o outro pelo 'shutdown', que afeta cerca de 800.000 funcionários públicos, obrigados a tirar licença sem receber salário. 

"Imoral"

Desde essa quinta-feira (3), com a inauguração do novo Congresso americano, Trump começou a viver em um novo cenário político: os republicanos mantêm o controle do Senado, mas os democratas recuperaram a Câmara dos Representantes, com Nancy Pelosi como a principal porta-voz da oposição. 

"Não vamos construir um muro", disse Pelosi na quinta. "Um muro é uma imoralidade entre países. É uma forma de pensar antiga, não é rentável", declarou, argumentando que o dinheiro estaria mais bem investido em tecnologia de segurança como drones e câmeras e na contratação de mais agentes fronteiriços. 

A paralisação orçamentária tem como principal obstáculo a exigência do presidente americano de um investimento de mais de 5 bilhões de dólares para a construção do muro, uma de suas principais promessas de campanha.  

Nos últimos dias, aventou-se a possibilidade de um acordo sobre outro tema relacionado com a imigração: a regulamentação da situação dos "dreamers", os imigrantes que chegaram aos Estados Unidos ainda crianças, acompanhados dos pais.

Sob a administração do ex-presidente Barack Obama, foi lançado um programa que protegia da deportação e concedia autorizações para trabalhar e para tirar carteiras de motorista a 700.000 "dreamers" inscritos.  

Este programa, denominado Ação Diferida para os Chegados na Infância (DACA), foi suprimido por Trump em setembro de 2017, e desde então é objeto de uma disputa nos tribunais, que provavelmente vai chegar à Suprema Corte. 

Na coletiva de imprensa, Trump informou que uma negociação a respeito não está na ordem do dia. 

"Vamos falar em outro momento", disse o presidente.  

Uma disputa com vistas a 2020

A disputa pelo muro também dá o tom de como serão os próximos anos do governo para Trump, que depois de ter iniciado seu mandato sem oposição no Congresso, agora enfrenta uma Câmara de Representantes que pode frustrar seus planos e que ainda tem o poder de lançar investigações. 

Esta queda de braço também está claramente orientada a estabelecer uma relação de forças visando a campanha presidencial de 2020.  

Alguns dos novos legisladores que chegaram na quinta-feira a Washington já lançaram apelos para iniciar um processo de impeachment contra Trump, mas até agora Pelosi tem sido cautelosa e disse ser contrária a ativar este procedimento. 

"Como poderiam destituir um presidente que conseguiu vencer talvez a mais importante eleição de todos os tempos, que não fez nada errado (não houve conluio com a Rússia, foram os democratas que o fizeram)?", escreveu Trump no Twitter.

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