O opositor Juan Guaidó, apoiado por 40 países que o reconhecem como presidente interino da Venezuela, redobrará a sua pressão pela entrada de ajuda humanitária, desafiando o mandatário Nicolás Maduro, que a considera o início de uma intervenção militar dos Estados Unidos.
O Parlamento, de maioria opositora, e colaboradores de Guaidó aprovou nesta terça-feira (5) a estratégia de atenção à "emergência humanitária", que terá como primeira ação o estabelecimento de centros de estocagem na Colômbia e no Brasil, disse Guaidó após o debate.
"Aqui na Venezuela não vai entrar ninguém, nem um soldado invasor. Nesta terra ninguém toca", sentenciou o presidente socialista, que conta entre seus aliados com Rússia, China, Turquia e Irã.
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A ajuda humanitária é o novo desafio de Guaidó, após ser reconhecido na véspera como presidente interino por 20 países europeus, ao fim de um ultimato dado a Maduro para que convocasse "eleições livres".
"Querem mandar dois caminhõezinhos com quatro panelas. A Venezuela não tem que mendigar a ninguém. Se querem ajudar, que acabem com o bloqueio e as sanções", disse o presidente, assegurando que não permitirá que "humilhem" o país com o "show da ajuda humanitária".
O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho na Colômbia anunciou, entretanto, que não pode participar "nas iniciativas de entrega de assistência planejadas para a Venezuela da Colômbia, sem que exista um acordo prévio" com as autoridades.
"Nos faz muita falta"
Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares, e o Canadá, de outros 40 milhões, uma "esmola", segundo o governo venezuelano.
Maduro acusa Washington - com o qual rompeu relações diplomáticas - de usar Guaidó como "fantoche" para derrubá-lo e se apropriar do petróleo venezuelano, e os países europeus de apoiar esses "planos golpistas".
"Há entre 250.000 e 300.000 venezuelanos em risco de morrrer. O primeiro aporte é para essa população mais vulnerável", assegurou Guaidó, que admitiu que a primeira ajuda dará somente para um mês e para cinco hospitais.
Guaidó denunciou que os militares serão ordenados a barrar a entrada de ajuda ou a roubá-la para distribuí-la em programas do governo. "Não cruzem esse limite", advertiu o deputado Miguel Pizarro, chefe da comissão parlamentar sobre a ajuda.
Fortalecido com o reconhecimento de 20 governos europeus, que se soma ao de Estados Unidos, Canadá e 12 países latino-americanos, Guaidó também pedirá ajuda humanitária à União Europeia (UE).
Além disso, solicitará a proteção de contas e ativos venezuelanos, como os Estados Unidos fizeram, que embargará a compra de petróleo venezuelano a partir de 28 de abril.
A Comissão Europeia anunciou nesta terça uma ajuda de 5 milhões de euros a mais para enfrentar a crise na Venezuela, o que eleva a ajuda humanitária para o país em 39 milhões desde 2018.
Bruxelas, que geralmente envia sua ajuda para a Venezuela por meio de organizações internacionais, também anunciou sua intenção de abrir um escritório humanitário em Caracas.
Também nesta quinta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a UE de tentar derrubar o presidente Maduro.
"Sabemos agora o que é a UE. De um lado falam de eleições e democracia e depois, de maneira violenta e com artimanhas, tentam derrubar um governo", disse Erdogan.
Na terça-feira, 19 países da UE reconheceram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Ele se autoproclamou presidente em 23 de janeiro.
12 meses
O Parlamento venezuelano, de maioria opositora, fixou em 12 meses a vigência máxima de um eventual governo de transição liderado por Guaidó, que começaria quando chegar ao fim o que considera uma "usurpação" do poder por parte de Nicolás Maduro.
"Uma vez cessada a usurpação", Guaidó "exercerá durante 30 dias contínuos como presidente encarregado" para "conduzir o processo que leve à formação de um governo provisório (...) e a realização de eleições presidenciais livres", estabelece a Lei do Estatuto para a Transição, aprovada nesta terça-feira em sessão ordinária.
Se houver "impossibilidade técnica para convocar" eleições nesses 30 dias, o Parlamento "poderá ratificar o presidente encarregado como presidente provisório", com um mandato com "prazo máximo de doze meses".
O texto estabelece, entretanto, que as eleições deverão ser "realizadas no menor tempo possível".