Um memorando apresentado neste sábado (23) pelo escritório do conselheiro especial Robert Mueller, que investiga a suposta interferência da Rússia na eleição presidencial americana de 2016, aponta que o ex-chefe da campanha presidencial de Donald Trump, Paul Manafort, cometeu delitos que feriram o "coração do sistema penal" dos Estados Unidos. O documento relata que Manafort enganou por anos a todos, desde seus contadores e bancos até fiscais federais e "membros do poder Executivo do EUA". Os procuradores arquivaram o memorando nesta sexta-feira, mas o documento veio a público hoje com algumas informações editadas e outras apagadas.
O memorando foi apresentado em um dos casos penais contra Manafort. Não se posiciona sobre quanto tempo o ex-aliado de Trump deveria permanecer preso ou se a pena deveria ser cumprida simultânea ou posteriormente à sentença que receberá em breve por outro caso no Estado da Virgínia, relacionado a fraudes fiscais e bancárias. Neste caso, a equipe de Mueller defende pena de 19,5 a 24,5 anos de prisão.
O documento mostra Manafort como um criminoso que não se arrependeu e que não merece indulgência. Nele, os autores relatam que Manafort vem cometendo irregularidades e crimes "ousados" há muito tempo, alguns quando ele ainda era presidente da campanha de Trump.
"Durante mais de uma década, Manafort violou a lei repetida e descaradamente", escrevem os fiscais. "Ele continuou cometendo crimes enquanto foi acusado pela primeira vez, em outubro de 2017, e incrivelmente não parou depois de ser processado", acrescentaram. Referindo-se a mentiras contadas por Manafort ao FBI, a várias agências do governo e a seu próprio advogado, os fiscais alertam que "depois de sair da prisão, há enorme risco de Manafort reincidir". Manafort está preso há meses e completa 70 anos em abril.
O memorando de 25 páginas foi apresentado em um tribunal federal em Washington e é provavelmente o último dos principais pedidos dos promotores. Manafort deve enfrentar as audiências de sentença no mês que vem, com as investigações de Mueller próximas de serem concluídas. Ele terá a chance de apresentar sua própria recomendação de sentença na semana que vem. Manafort e seu parceiro comercial de longa data, Rick Gates, foram as duas primeiras pessoas investigadas por Mueller, que produziu acusações contra 34 pessoas, incluindo seis ex-assessores do Trump e três empresas.
O caso de Manafort contrasta com o de outros réus no processo de investigação de interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016. O ex secretário de Segurança Nacional, Michael Flynn, foi elogiado por promotores por sua colaboração, o que abriu a possibilidade de ele não ser preso. Manafort se declarou culpado, em setembro, por duas acusações de conspiração decorrentes de sua atuação como assessor político na Ucrânia. Como parte do acordo com a equipe de Mueller, ele reconheceu que subornou testemunhas mesmo depois de ter sido acusado de encorajar testemunhas a mudarem suas declarações.
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Mentiras
Mesmo após o acordo, Manafort mentiu várias à equipe de Mueller, inclusive sobre sua comunicação com Konstantin Kilimnik, um associado comercial que, de acordo com as autoridades dos EUA, tem ligações com serviços de inteligência russos. As mentiras anularam o acordo com a promotoria.
Como outros americanos próximos de Trump apontados pela investigação de Mueller, Manafort não foi acusado de envolvimento na interferência da eleição russa.