A Rússia, aliada do presidente venezuelano Nicolás Maduro, prometeu nesta sexta-feira (1º) continuar com sua ajuda humanitária "legítima" à Venezuela, enviando especialmente medicamentos.
"A Rússia continuará ajudando às autoridades da Venezuela a resolver as dificuldades econômicas e sociais, inclusive mediante a concessão de ajuda humanitária legítima", declarou o chefe da diplomacia russa Serguéi Lavrov após um encontro com a vice-presidenta Delcy Rodríguez, e informou que Moscou estudava um novo envio de medicamentos pedido por Caracas.
Delcy Rodríguez reiterou seu "agradecimento ao presidente Putin [...] e ao povo russo por todo o apoio que a Venezuela manifestou ao governo constitucional e legítimo".
"Maduro deu instruções muito claras de que alimentos o povo da Venezuela precisa, de que alimentos serão adquiridos da Rússia", acrescentou a vice-presidenta venezuelana.
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Lavrov assegurou que a Rússia enviou "um primeiro lote de 7,5 toneladas de medicamentos" com destino à Venezuela.
"Recebemos uma lista suplementar de medicamentos que o governo venezuelano desejaria obter. Estamos examinando-a, esclarecendo os detalhes e verificando os detalhes logísticos", acrescentou o ministro das Relações Exteriores.
Acrescentou que a Rússia efetuava "envios maciços de trigo" à Venezuela "que ajudam enormemente ao governo venezuelano a suspender os desafios humanitários atuais".
A Venezuela se encontra imersa na pior crise política e econômica de sua história, marcada pela hiperinflação e a escassez de produtos de primeira necessidade.
"Ajuda despolitizada"
Desde o aprofundamento da crise em 2015, a Venezuela sofre uma severa escassez de alimentos e medicamentos, que levou à emigração de mais de 2,7 milhões de pessoas para países da região.
O opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino e apoiado por mais de 50 países, entre eles Estados Unidos, tentaram fazer chegar a ajuda humanitária.
Em uma primeira tentativa no final de fevereiro, seu plano fracassou diante da resistência das forças leais a Maduro. A ajuda seria entregues pela fronteira com a Colômbia e o Brasil, fechadas do lado venezolano, mas confrontos deixaram quatro mortos.
Maduro considera a entrada dessa ajuda uma tentativa dissimulada de intervenção militar por parte dos Estados Unidos.
"A Venezuela não precisa de uma intervenção militar [...] nem dos Estados Unidos nem de ninguém, nós precisamos de paz, estabilidade e tranquilidade", declarou Delcy Rodríguez.
Lavrov considerou "inadmissível a politização do assunto da ajuda humanitária" e estimou que essa questão devia ser solucionada "por meio de práticas internacionais e não servir de pretexto para uma manipulação da opinião pública, a mobilização das forças antigovernamentais e para justificar propósitos intervencionistas".
Nesse sentido, uma porta-voz da União Europeia (UE) assegurou à AFP que o Grupo de Contato Internacional (GCI) para Venezuela explora as formas de "entregar uma ajuda despolitizada" e que considera importante "trabalhar com outros parceiros humanitários internacionais, em particular a ONU" com este fim.
O GCI, criado pela UE junto a vários países europeus e latino-americanos para dar uma saída pacífica à crise no país petroleiro, se reunirá novamente "a nível ministerial" no final de março na América Latina, acrescentou a mesma fonte.
Em sua visita a Moscou, a vice-presidente venezuelana também se referiu ao petróleo, outro dos elementos centrais da crise, e assegurou que o "presidente Maduro instruiu que o escritório de petróleo da Venezuela na Europa, que se encontra em Lisboa, seja transferida a Moscou". "É uma forma de garantir nossa cooperação", assegurou.
Lavrov também garantiu a Delcy Rodríguez a "solidariedade" do presidente russo de Vladimir Putin a Nicolás Maduro, frente a "um ataque frontal e a uma ingerência sem vergonha em seus assuntos internos" pelos países ocidentais que reconheceram Juan Guaidó