Depois de semanas em declive, o movimento dos "coletes amarelos" ganhou um novo impulso neste sábado, com uma grande manifestação em Paris salpicada por confrontos com a polícia, lojas saqueadas e barricadas com fogo na famosa avenida Champs-Élysées, e que terminou com 237 detidos e 12 feridos.
No total, 32,3 mil pessoas se manifestaram na França, segundo cifras do Ministério do Interior. Segundo os coletes, foram 230,8 mil manifestantes.
Os protestos aconteceram enquanto o presidente Emmanuel Macron passava o dia esquiando nos Pirineus com a mulher, Brigitte. Por causa da violência, o presidente suspendeu o fim de semana de descanso para retornar a Paris, onde deveria participar de uma reunião de crise no Ministério do Interior, anunciou à AFP a presidência francesa.
Os primeiros episódios de violência foram registrados pouco antes do meio-dia na famosa avenida parisiense, onde haviam se reunido cerca de 10 mil manifestantes. Alguns grupos montaram barricadas ou invadiram lojas de grandes marcas, como Hugo Boss e Lacoste, aos gritos de "Revolução!".
O conhecido restaurante Fouquet's, frequentado por políticos e celebridades, foi alvo de grande destruição, com vidros quebrados, mesas derrubadas, pichações na fachada e o toldo da entrada incendiado.
Também foi declarado um incêndio em um banco localizado no térreo de um prédio de apartamentos. Bombeiros removeram os moradores e apagaram o fogo. Onze pessoas ficaram levemente feridas, entre elas dois policiais, segundo os bombeiros.
Entre os manifestantes, um homem foi ferido no olho por uma bala de borracha na Champs-Élysées.
O ministro do Interior, Christophe Castaner, denunciou no Twitter que os autores destes atos "não são manifestantes ou agitadores, são assassinos", e pediu à polícia que respondesse "com a maior firmeza a estes ataques, inadmissíveis".
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, visitou à tarde a grande avenida parisiense para verificar os estragos e agradecer à polícia. Um total de 237 pessoas foram detidas, segundo um comunicado das autoridades divulgado às 19h30 locais.
Cifras divulgadas pelo ministro do Interior dão conta de cerca de 8 mil manifestantes reunidos hoje na capital francesa, entre eles 1,5 mil extremamente violentos.
Pressão sobre Macron
Há semanas não se viam em Paris cenas de saques e confrontos deste tipo, que lembraram as registradas na Champs-Élysées no fim do ano passado, cujas imagens deram a volta ao mundo.
A pouca distância das vitrines destruídas, junto ao Arco do Triunfo, outros manifestantes, muitos deles vestidos de preto e com o rosto coberto, atiraram pedras contra as forças de ordem, que responderam com gás lacrimogêneo e jatos d'água. Segundo imagens de TV, outro grupo tentou atacar um caminhão dos gendarmes.
"Muitos fatores nos levam a pensar que a mobilização de hoje pode ter sido maior que as dos sábados anteriores", sobretudo devido à presença de grupos violentos, disse uma fonte policial.
Apresentado como um "ultimato" a Macron, este 18º dia de manifestações contra as políticas fiscal e social do governo francês acontece após uma série de debates na França com os quais o governo esperava canalizar a irritação dos manifestantes e fazer surgirem propostas concretas.
"Nós nos desmobilizamos um pouco na semana passada, mas não estamos mortos, Macron!", gritou Murielle, que participava de uma passeata que saiu do noroeste de Paris. Vários nomes deste movimento apolítico, que se organiza nas redes sociais, convocaram simpatizantes a se reunirem na capital.
Maxime Nicolle, outro membro importante, prometeu "um dia memorável, um fim de semana entre os mais importantes desde o início desta mobilização".
Cerca de 5 mil homens e seis blindados dos gendarmes estavam mobilizados na capital. Em outras cidades da França também houve manifestações, como Lyon, Montpellier e Bordeaux.