Dezenas de milhares de palestinos se reuniram, neste sábado (30), perto da fronteira israelense na Faixa de Gaza, onde confrontos com soldados israelenses já deixaram quatro mortos e centenas de feridos palestinos, correndo o risco de uma escalada com o Estado judeu.
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Horas depois, na madrugada deste domingo, cinco foguetes foram disparados a partir da Faixa de Gaza em direção a Israel, o que motivou disparos de tanques israelenses contra posições militares do Hamas, informou o exército israelense.
Os disparos de foguetes não provocaram vítimas, segundo um comunicado do exército.
Os manifestantes desejavam marcar o primeiro aniversário de uma mobilização chamada de "as grandes marchas do retorno", que mantém a fronteira sob tensão há um ano.
Os alto-falantes das mesquitas tocaram mensagens convocando os moradores às manifestações, enquanto vários ônibus levavam os manifestantes para a fronteira.
Entre os vários pontos de encontro, milhares de moradores do enclave espremido entre Israel, Egito e o Mediterrâneo, caminharam em direção à fronteira com bandeiras palestinas.
Em Malaka, a leste da cidade de Gaza, a maioria dos manifestantes se manteve longe da cerca para ficar fora do alcance dos atiradores israelenses. Mas alguns palestinos se aproximaram a algumas dezenas de metros, queimaram pneus para atrapalhar a visibilidade dos atiradores e jogaram pedras nos soldados antes de voltar correndo.
O Exército israelense respondeu, disparando gás lacrimogêneo e abrindo fogo. Imagens de vídeo da AFP mostram um palestino atingido por um tiro de retaliação israelense.
Três adolescentes palestinos de 17 anos, um deles atingido no rosto enquanto se manifestava no leste de Gaza e os outros dois alvejados por tiros israelenses enquanto protestavam na região sul do enclave, morreram, segundo o ministério da Saúde de Gaza.
Mais cedo, perto da fronteira, um palestino de 20 anos foi morto por tiros israelenses durante uma manifestação noturna.
Ao todo, 300 palestinos ficaram feridos, incluindo 64 por balas reais, segundo o ministério da Saúde palestino.
O Exército israelense contabilizou 40.000 participantes na mobilização deste sábado.
As chamadas se multiplicaram em favor de um protesto não violento. O espectro de uma nova guerra ressurgiu nas últimas semanas entre Israel e o Hamas, que seria a quarta desde que o movimento islâmico, que nega a existência de Israel, assumiu o poder em Gaza em 2007.
A questão é se o Hamas tentará conter a violência contra os soldados israelenses ou se dará liberdade total aos manifestantes.
Apesar dos apelos dos organizadores, "vamos para a fronteira, mesmo que tenhamos que morrer", disse Yousef Ziyada, 21 anos, com um rosto pintado nas cores palestinas.
"Estamos aqui em Abu Safia, a leste de Jabaliya, para expulsar os judeus de nossa terra", afirmou. "Vamos voltar para a nossa terra".
Desde 30 de março de 2018, milhares de moradores de Gaza protestam toda semana para exigir o levantamento do bloqueio estrito que Israel impõe há mais de dez anos a Gaza e pelo direito de retornar às terras que eles ou seus pais fugiram ou foram expulsos na criação de Israel em 1948.
Pelo menos 262 palestinos foram mortos desde então, a maioria deles em "marchas do retorno", o restante em ataques israelenses de retaliação a atos hostis. Dois soldados israelenses foram mortos.
Palestinos e defensores dos direitos humanos acusam Israel de uso excessivo da força. Israel diz que está apenas defendendo sua fronteira.
Dezenas de atiradores de elite
O Exército israelense havia mobilizado milhares de soldados, dezenas de atiradores de elite, tanques e artilharia no caso de grupos armados lançarem foguetes contra Israel.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alertou que seu país está pronto para realizar uma operação "em grande escala", se necessário. Mas ele também insinuou que pretendia dar uma chance à mediação egípcia.
Negociações aconteceram na sexta-feira sob mediação do Egito, um intermediário tradicional entre o Hamas e Israel. Uma delegação egípcia visitou neste sábado o local da mobilização.
O Hamas busca nas negociações aliviar o bloqueio israelense que sufoca a Faixa de Gaza. Israel justifica o bloqueio pela necessidade de conter o Hamas.
O Hamas e Netanyahu estão sob pressão.
O primeiro enfrentou recentemente manifestações contra a profunda recessão econômica, que ele reprimiu severamente. O segundo, diante da forte competição nas eleições, é acusado por seus oponentes de fraqueza contra o Hamas.