Detido nesta quinta-feira (11) pelas autoridades britânicas depois que o Equador retirou o asilo diplomático concedido em 2012, Julian Assange é um polêmico paladino da transparência, fundador da plataforma WikiLeaks. Ele ficou mundialmente conhecido em 2010, quando divulgou milhares de documentos diplomáticos e militares americanos.
O australiano, de 47 anos, passou quase sete anos na embaixada equatoriana, situada no bairro nobre londrino de Knightsbridge. Isso até a Polícia de Londres, convidada a entrar na legação diplomática pelo embaixador do Equador, tirá-lo de lá arrastado.
Assange entrou na embaixada em 19 de junho de 2012 para escapar de uma extradição para a Suécia, cujas bases acabaram sendo desconsideradas. Ele permaneceu na missão equatoriana, porém, porque a Justiça britânica continuava a persegui-lo por ter violado os termos de sua liberdade condicional. Em 2017, após a eleição de Lenín Moreno à presidência em abril, evento que significou uma reviravolta na diplomacia equatoriana, Assange se tornou um hóspede incômodo para o Equador.
Em uma tentativa de tirá-lo do prédio sem maiores problemas, Quito lhe concedeu em janeiro de 2018 a nacionalidade equatoriana e tentou lhe outorgar um status diplomático rejeitado por Londres. O australiano temia, principalmente, ser entregue aos Estados Unidos para ser julgado pela difusão, em 2010, de milhares de documentos militares e diplomáticos nos Estados Unidos.
Quando afirmou, há alguns meses, que pesavam contra ele acusações supostamente secretas nos EUA, foi acusado de paranoia. Seus temores se confirmaram hoje, porém, depois que a polícia britânica anunciou que as autoridades americanas emitiram "uma ordem de extradição" contra Assange. Nos EUA, ele está sendo acusado de conspiração por ciberpirataria, de acordo com o Departamento de Justiça.
Eleições americanas e separatismo catalão
A longa reclusão foi fazendo Assange perder protagonismo, até que, em novembro de 2016, ele interferiu nas eleições americanas e, em outubro de 2017, fez o mesmo no processo separatista catalão. Em ambos os casos, o governo equatoriano o lembrou de que não poderia interferir em assuntos de outros países, estando em sua legação diplomática.
Antes disso, porém, sua organização WikiLeaks talvez já tivesse contribuído para a vitória de Donald Trump, ao publicar milhares de mensagens secretas da campanha de sua rival democrata Hillary Clinton. E apoiou os separatistas catalães contra o governo espanhol da época, presidido por Mariano Rajoy, divulgando imagens da resposta policial ao referendo de independência proibido.
A campanha de Hillary acusou o WikiLeaks de difundir "propaganda russa", mas Assange negou estar a serviço de Moscou: "o WikiLeaks publicou mais de 800.000 documentos relacionados com a Rússia, ou (seu presidente Vladimir) Putin, e a maioria é crítica".
Juventude
Julian Assange nasceu em 3 de julho de 1971, em Townsville, no estado australiano de Queensland. Sua mãe, a atriz de teatro Christine Ann Assange, separou-se do pai de Julian antes de seu nascimento. Até os 15, o jovem viveu em mais de 30 cidades australianas antes de se estabelecer em Melbourne.
Aluno inteligente, estudou matemática, física e informática na universidade, sem chegar a se formar. Foi, então, seduzido pela ciberpirataria e chegou a entrar nas redes da Nasa e do Pentágono com o pseudônimo de "Mendax". Foi nessa época que nasceu seu filho, Daniel, cuja guarda veio a disputar com a mãe.
'Egocêntrico', 'obsessivo' e 'paranoico'
Com a notoriedade do WikiLeaks, foi saudado como um gênio da informática e um messias libertário. "É o homem mais perigoso do mundo", diz uma biografia sua. Rapidamente, vieram as críticas. As autoridades acusaram-no de pôr em risco a vida de agentes de Inteligência, e alguns velhos amigos e colaboradores descreveram-no como "egocêntrico", "obsessivo" e "paranoico".
O cômodo, no qual Assange passou os últimos anos, está dividido em um escritório e uma sala de estar, com uma faixa para fazer exercícios, um banheiro, um micro-ondas e uma lâmpada de luz solar artificial.
A equipe de advogados do australiano, dirigida pelo ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, denunciou as condições de vida impostas na embaixada, alegando que restringem seus "direitos fundamentais". Desde outubro, Assange tinha acesso apenas à Internet mediante o wi-fi da missão diplomática, e suas visitas eram estritamente reguladas. "Condicionam o asilo político de Assange à censura de sua liberdade de opinião, expressão e associação", afirmam os advogados, acusações estas rejeitadas por Quito.