Dezenas de parentes se reuniram com dor e indignação neste sábado em frente a um necrotério em Acarigua, um dia depois que 29 prisioneiros morreram em um motim em uma delegacia de polícia na cidade venezuelana.
Reunidos em frente ao portão de entrada do necrotério do hospital Jesús Maria Casal Ramos, em Acarigua, os parentes procuraram informações de seus familiares mortos ou exigiram que os corpos fossem entregues para o enterro.
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"Mataram meu filho", disse entre lágrimas Zuleyma Ponte, de 50 anos, à AFP. "De quem é a culpa? É falta de supervisão, falta de governo sério, porque o governo não é sério".
"Na delegacia de polícia o que se viu foi um massacre contra essas criaturas", disse Ponte, dizendo que na sexta-feira várias pessoas perto da delegacia ouviram os detentos, incluindo seu filho de 33 anos, gritar "não nos deixe morrer ".
Segundo o secretário de Segurança Pública de Portuguesa, Óscar Valero, os 29 presos morreram na sexta-feira em um confronto quando agentes das Forças de Ação Especial da Polícia Nacional (FAES) intervieram para controlar uma "tentativa de fuga em massa".
"O que queremos é que, por favor, nos entreguem nossos meninos e prontos, eles não vão ressuscitar, entreguem nossos familiares e indaguem os funcionários", disse irritada Aliris Pérez, uma professora de 34 anos cujo irmão de 24 anos de idade foi morto na delegacia de polícia.
A violência é recorrente em meio milhão de centros de detenção preventiva na Venezuela, que passam por superlotação. O código penal estabelece que os acusados não devem passar mais de 48 horas nesses centros, mas na prática eles funcionam como prisões.
A falta de transparência é comum diante de casos como esse. O Ministério de Assuntos Penitenciários não costuma dar informações, alegando que centros como o de Acarigua não estão sob sua responsabilidade.
Na delegacia de Portuguesa, com capacidade para 60 pessoas, havia cerca de 500, segundo um relatório policial interno ao qual a AFP teve acesso.
Condenações de defensores de DH
Organizações de direitos humanos condenaram os fatos e pediram uma investigação.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou no Twitter "sua especial preocupação pelos altíssimos níveis de violência nas prisões na Venezuela" e pediu "medidas imediatas que garantam a vida" dos presos.
As investigações devem apontar não somente os responsáveis materiais e intelectuais, como também as "autoridades responsáveis pela ação ou omissão", informou a CIDH, ente autônomo da Organização de Estados Americanos.
A diretora da Anistia Internacional para as Américas, Érika Guevara Rosas, escreveu no Twitter que o fato de as pessoas estarem "sob a custódia do Estado, (...) deixa o governo de Nicolás Maduro como principal responsável por essas mortes".
1- La @CIDH condena los hechos violentos en comisaria de #Acarigua, #Venezuela. Según información publica, el día de hoy tuvo lugar un motín que resultó en que al menos 23 personas perdieran la vida, y 14 oficiales resultaran heridos. pic.twitter.com/eLqNiqacMr
— CIDH (@CIDH) 24 de maio de 2019