A presença de Donald Trump, que fez diversas reuniões bilaterais, assim como os interesses individuais frente à cooperação internacional estão desvirtuando o G20, um fórum fundado em 2008 para dar uma resposta conjunta à crise mundial.
A reunião anual das 20 maiores economias do mundo, desenvolvidas e emergentes, celebradas na sexta-feira e sábado, foi abafada pela aguardada reunião entre o presidente americano Donald Trump e seu homólogo chinês Xi Jinping, envolvidos em uma guerra comercial.
"Esta é a segunda cúpula do G20 na qual o principal acontecimento é uma reunião que não tem nada a ver com o G20", explica Thomas Bernes, do Centre for International Governance Innovation, um grupo de pesquisa canadense, lembrando da cúpula de Buenos Aires em dezembro passado - quando Trump e Xi também se reuniram.
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Em Osaka, os dois dias de cúpula foram marcados por uma série de encontros bilaterais que lançaram sombra nas sessões de trabalho conjunto, enquanto os países da União Europeia seguiam suas próprias negociações para renovar os cargos de poder em Bruxelas.
Trump pareceu atender apenas a seus interesses e, neste sábado, antes de se reunir com Xi, lançou de surpresa no Twitter um convite ao líder norte-coreano Kim Jong Un para encontrá-lo na fronteira entre as duas Coreias. Mais tarde, se reuniu com o príncipe herdeiro saudita, Mohamed Bin Salman, um "amigo".
E o clima?
Na sexta-feira, primeiro dia da cúpula, a atenção ficou voltada para as polêmicas tiradas de Trump e Vladimir Putin sobre temas sensíveis.
Em geral, o G20 - grupo de países de somam mais de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e dois terços da população do planeta - tem dificuldade, nos últimos anos, para conseguir um consenso em volta da defesa de objetivos comuns.
A declaração final tradicional, até agora um mero trâmite, tornou-se um enigma desde a chegada de Trump ao poder em 2017.
Na primeira reunião deste fórum, em 2008, os líderes de 20 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Europeia) defenderam o "multilateralismo", uma promessa vaga, mas que tinha consenso naquele momento e agora parece impossível manter.
"Conflitos bilaterais, particularmente entre os Estados Unidos e a China, ameaçam corroer sensivelmente o sistema de comércio global baseado em regras construído ao longo de várias décadas", diz Adam Slater, analista da Oxford Economics.
Outra das grandes crises do planeta, a mudança climática, não consegue encontrar consenso dentro do G20.
"O Acordo de Paris foi um marco, mas a paisagem da política mundial mudou drasticamente, especialmente desde o início da presidência de Trump", opinou Takehiko Yamamoto, professor honorário da Universidade de Waseda, em Tóquio.
Os membros do G20 anunciaram apoio a um acordo sobre o clima neste sábado em Osaka, com exceção dos Estados Unidos, como nas duas últimas cúpulas.
"As consequências lamentáveis sobre as mudanças climáticas ressaltam os limites do G20. Estão no mesmo barco, mas com interesses diferentes", diz Yamamoto.
A situação foi similar na Argentina, no ano passado, e pode se repetir na cúpula do ano que vem, na Arábia Saudita.
"Tenho certeza que eles vão ter a mesma posição, que é não colocar Trump em uma situação difícil. Isto significa que o resto do G20 será deixado de lado", diz ele, pedindo pela exploração de "novos modelos de cooperação, multilateral ou regional".