Mergulhada na recessão econômica, a Argentina realizou neste domingo (11) eleições primárias obrigatórias que servem de teste para a disputa presidencial de outubro, na qual o liberal Mauricio Macri buscará a reeleição contra o peronista de centro esquerda Alberto Fernández.
Os centros de votação fecharam às 18H00. Cerca de 75% dos 34 milhões de eleitores foram às urnas, um percentual considerado alto para as primárias, segundo o ministro do Interior, Rogleio Frigerio.
As primárias darão um ideia melhor do nível de polarização no país, que chega a até 80% em algumas pesquisas. Nessa disputa, será fundamental a margem de diferença entre Macri e Fernández. O último aparece como favorito nas sondagens e tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015).
A terceira opção na corrida eleitoral é a chapa do ex-ministro da Economia Roberto Lavagna com o governador de Salta, Juan Manuel Urtubey, do peronismo de centro.
No total, há dez chapas disputando a presidência, em um universo de 34 milhões de eleitores.
Fernández votou no meio da manhã em Puerto Madero, o moderno bairro de Buenos Aires onde vive com sua companheira Fabiola Sánchez, atriz e jornalista cultural.
"Estou muito tranquilo e relaxado, esperando que os argentinos decidam. Os peronistas estão todos unidos. Estamos muito satisfeitos", disse Fernández, de 60, depois de votar, evocando a a última ditadura (1976-83).
Macri também disse estar tranquilo. "Tudo o que tínhamos para pôr no coração, nós colocamos", declarou.
Sua rival Cristina Kirchner votou por volta das 13h40 em Río Gallegos, na província patagônica de Santa Cruz, histórico reduto eleitoral da ex-presidente e de seu marido, Néstor. Interagiu com os eleitores, sem falar com a imprensa.
Pauta econômica na agenda eleitoral
Assombrados pela inflação, uma das mais altas do mundo, chegando a 22% no primeiro semestre, e por uma pobreza que atinge 32% da população, os argentinos veem diante de si dois projetos antagônicos: o de Macri, que leva adiante um plano de ajuste apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), e o de Fernández, visto com desconfiança pelos mercados.
Fernández foi chefe de gabinete do já falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), época em que a Argentina se afastou do Fundo, após cancelar o pagamento dos 9,6 bilhões de dólares ainda devidos ao organismo.
Também foi chefe de gabinete de Cristina Kirchner, até 2008, durante seu primeiro ano de governo.
"Vamos eleger entre dois modelos que já conhecemos. Seria muito difícil superar uma diferença de mais de cinco pontos. Devido à polarização, não há margem de onde tirar votos", disse à AFP o analista político Raúl Aragón.
"Fernández teve que fazer um trabalho inicial de 'se deskirchneralizar'. Foi trabalhoso. Depois, destacou a economia, que é o tema do qual o governo foge", explicou Aragón.
"É uma campanha, onde se busca trabalhar nos aspectos negativos do outro candidato. É uma eleição entre o temor e a decepção: o temor de que o governo Cristina Kirchner volte, com toda sua cota de corrupção, ou a decepção de que siga uma economia como a de Macri, que, em termos sociais, não dá resultados", considerou o analista político Rosendo Fraga.