BARCELONA - Os milhares de agentes da Polícia Nacional e da Guarda Civil enviados à Catalunha pelo governo espanhol não foram suficientes para conter os protestos por conta da condenação de doze dirigentes independentistas julgados pela realização do referendo de 1º de outubro de 2017 e a falida proclamação da república. Nove deles, presos há quase dois anos, receberam penas de nove e 12 anos, por sedição e malversação de fundos públicos, além de inabilitação política pelo Tribunal Supremo (TS). Três foram condenados ao pagamento de multa, além da retirada dos direitos políticos. A pena mais alta foi aplicada ao ex-vice-presidente Oriol Junqueras, condenado a 13 anos.
“Não foi uma sentença, foi uma vingança”, escreveram os nove condenados em carta aberta. Além de Junqueras, foram condenados os ex-secretários Jordi Turull, Raül Romeva e Dolors Bassa, a 12 anos por sedição e malversação. Os ex-secretários Josep Rull e Joaquim Forn a 10 anos e meio por sedição, a ex-presidente do Parlamento, a 11 anos e meio por sedição, além dos ativistas Jordi Sànchez (ANC) e Jordi Cuixart (Òminium) a nove anos por sedição. Santi Vila, Carles Mundó e Meritxell Borràs, ex-secretários, foram condenados por desobediência a uma multa de 10 meses com uma multa diária de 200 euros durante um ano e meio e um ano e oito meses de inabilitação.
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A reação à sentença foi imediata, transbordando indignação nas ruas. Manifestantes tomaram avenidas e praças de Barcelona, além de pontos estratégicos da capital após o anúncio das penas feito em Madri, antes das 10h. O ponto de maior concentração de manifestantes em Barcelona foi no Aeroporto El Prat, onde muitos chegaram a pé após uma jornada de mais de 13 quilômetros. Foi a única forma de ir ao local após a polícia ordenar o fechamento das estações de metrô, para onde grande parte das 25 mil pessoas que estavam concentradas no início da tarde na praça Catalunha se deslocaram ao serem convocadas para bloquear o terminal pelo movimento conhecido como Tsunami Democrático.
Além das linhas de metrô que levam a El Prat, também foram fechadas as estações de trem ao destino e montados bloqueios na principal estrada de acesso. Muitos dos que se dirigiam ao local de carro, deixaram os veículos no meio do caminho e seguiram caminhando. Os bloqueios dificultaram a vida dos passageiros e também das tripulações dos voos, que foram obrigadas a colocar o pé na estrada. Mais de cem voos de diversas companhias haviam sido cancelados até o início da noite.
A polícia agiu com violência na tentativa de impedir os manifestantes ultrapassarem as barreiras montadas no terminal, onde só estava sendo permitido o acesso de quem estava com o bilhete aéreo em mãos. Foram disparadas balas de borracha e jogado gás para dispersar a multidão. No final da tarde, o Tsunami Democrático anunciou uma ação surpresa no aeroporto de Barajas, em Madri, onde 1,2 mil veículos se perfilaram em marcha lenta bloqueando os principais acessos ao terminal.
Na Catalunha, os protestos rapidamente se espalharam pelas estradas, com piquetes impedindo o tráfego em pontos nevrálgicos do território. Manifestantes conseguiram bloquear linhas de trem nos municípios de Girona e de Tarragona. À noite, a partir das 20h, foram registradas concentrações em praças da maioria dos municípios catalães. Em Barcelona, uma passeata seguiu do passeio de Gràcia até a Via Laetana. Às 21 horas um estridente panelaço ecoou se somando aos protestos de rua e fechando um dos dias mais duros dos últimos tempos para os independentistas catalães.