Os protestos que começaram em 18 de outubro motivados pelo aumento do preço da passagem do metrô em Santiago - medida que o governo suspendeu - deixaram o Chile sob tensão. Rapidamente a pauta foi ampliada para um movimento maior, que apresenta outras demandas sociais. Nesta terça-feira (22), mais três mortes foram confirmadas pelo governo.
As manifestações provocaram confrontos com as forças de segurança, saques e incêndios em estabelecimentos comerciais: 15 pessoas morreram em cinco dias de caos no país. Santiago e a maioria das 16 regiões do Chile se encontram em estado de emergência e 10.000 militares e policiais foram mobilizados para impedir novos atos de violência nos protestos.
Vivendo no Chile há um ano e meio, o pernambucano Gabriel Castro, 29 anos, que é oficial da marinha mercante mas trabalha com turismo, está no meio do caos social e concedeu entrevista ao JC para falar sobre o clima no país latino.
Confira a entrevista
JC - Onde você vive e como sua localidade é afetada pelas manifestações?
Gabriel Castro - Moro num bairro nobre e aqui é com Boa Viagem, coisas desse tipo demoram a chegar. Mas já é possível ver mais policiamento. Praticamente não tem violência aqui onde moro, então ver polícia nas ruas e nas estações do metrô é algo fora do comum. Lá no centro, onde estão acontecendo os conflitos é que está mais sério. Tudo quebrado, sinais de coisas queimadas durante os protestos. Não tem ninguém pelas ruas durante o toque de recolher e se sair leva bala mesmo.
JC - Como está o funcionamento do comércio? Há preocupação com estoque de mantimentos?
GC - A situação é de supermercados, padarias, restaurantes, tudo fechado. Se tiver mantimento em casa tem, se não tiver tem que esperar as coisas reabrirem, se abrirem por causa do toque de recolher. Comparo com a greve dos caminhoneiros que teve no Brasil, quando faltava de tudo. Os supermercados permanecem fechados as pessoas que foram trabalhar hoje estão tendo problemas pra pegar ônibus e os metrôs nem se fala, a grande maioria foi incendiada.
JC - Os protestos começaram por conta das tarifas do metrô de Santiago. Como eles tomaram esta proporção atual?
GC - Existe muita pobreza aqui no Chile que as pessoas não veem. São essas pessoas que estão lutando. É uma revolução que não é por 30 centavos, é uma luta de décadas. Essas pessoas mais pobres que não conseguem ter uma boa qualidade de vida aqui.
JC - Como o turismo está sendo afetado?
GC - O brasileiro vem pro Chile achando que por estar na América do Sul vai ter neve e gastar pouco, mas não é assim. Com o equivalente a R$ 6 você compra uma água mineral. Para jantar bem, tem que gastar uns R$ 120. Então você tem uma qualidade de vida boa, se ganhar bem. Os mais pobres ganham muito mal, inclusive. Trabalho com turismo e há uns três dias os turistas avisam que estão cancelando as passagens, os passeios. Está muito ruim. Mesmo as pessoas que estão aqui não podem fazer os passeios pelo centro de Santiago. É como um Galo da Madrugada, só que de protesto.