INTERMEDIAÇÃO

Cientistas apontam pangolim, mamífero em extinção, como possível transmissor do coronavírus

Apesar do morcego ser, provavelmente, reservatório do vírus, ele não é capaz de transmiti-lo a humanos; o suspeito de fazer este papel é o pangolim

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Publicado em 07/02/2020 às 12:41
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O pangolim, um pequeno mamífero conhecido por suas escamas e ameaçado de extinção, pode ser um animal-chave na transmissão ao homem do novo coronavírus, que já matou mais de 600 pessoas na China.

Pesquisadores da Universidade de Agricultura do sul da China identificaram o pangolim como um possível "hospedeiro intermediário" que facilitou a transmissão do vírus, informou a universidade em um comunicado, sem dar mais detalhes.

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Um animal que hospeda o vírus sem estar doente e pode transmiti-lo para outras espécies é chamado de reservatório. No caso do novo coronavírus, o reservatório provavelmente é o morcego. De acordo com um estudo recente, os genomas deste vírus e os que circulam neste animal são 96% idênticos.

O vírus do morcego não é, porém, capaz de se fixar em humanos receptores e, sem dúvida, precisa passar por outra espécie para se adaptar ao homem, o que é chamado de "hospedeiro intermediário".

Tendo estudado 1.000 amostras de animais selvagens, os cientistas determinaram que os genomas das sequências de vírus estudadas no pangolim eram 99% idênticos aos dos pacientes infectados pelo coronavírus de Wuhan.

Esse novo vírus apareceu em dezembro passado, em um mercado da cidade chinesa de Wuhan, no centro do país, onde muitos animais vivos são comercializados, alguns deles selvagens.

 

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Turistas chineses em Dempassar, na Indonésia - SONNY TUMBELAKA / AFP
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Pedestres usam máscaras durante feriado do Ano Novo Chinês, em Hong Kong - ANTHONY WALLACE / AFP
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Turistas chineses em Dempassar, na Indonésia - SONNY TUMBELAKA / AFP
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Casal usando máscaras no metrô de Hong Kong, na China - Anthony WALLACE / AFP
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Passageiros usando máscaras aguardam por trem na plataforma em Hong Kong - Anthony WALLACE / AFP
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Passageiros usando máscaras viajam em trem durante feriado de Ano Novo Chinês - Anthony WALLACE / AFP
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Homem usando máscaras sentado em um banco enquanto aguarda por trem - Anthony WALLACE / AFP
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Turista chinês usa máscara para se proteger do coronavírus em Dempanssar, na Indonésia - SONNY TUMBELAKA / AFP
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Passageiros usando máscaras aguardam por trem na plataforma em Hong Kong - Anthony WALLACE / AFP

Dada a natureza do novo coronavírus, os especialistas suspeitam de que havia um mamífero que agia como um "hospedeiro intermediário". Por algum tempo, pensaram na cobra, mas essa hipótese foi descartada.

Na epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), entre 2002 e 2003 na China, também causada por um coronavírus, o hospedeiro era o civet, um pequeno mamífero de carne muito apreciada na China.

Para conter a epidemia, o governo chinês anunciou, no final de janeiro, uma proibição temporária do comércio de animais silvestres. Criação, transporte e venda de todas as espécies selvagens também estão proibidos por tempo indeterminado.

Conheça o Pangolim

Mamífero ameaçado de extinção por conta da caça e cheio de escamas, o pangolim são mamíferos placentários da ordem Pholidota. Segundo explicou o professor de Ciências Biológicas, da Universidade de Pernambuco (UPE), Filipe Aléssio, "atualmente, são conhecidas 10 espécies diferentes de pangolins. Essas espécies podem ser divididas em dois grupos: os pangolins africanos e os asiáticos", disse. "Quase todas as espécies possuem as mesmas características: são animais consideravelmente pequenos, com caudas compridas, focinho fino, não possuem dentes e o corpo é coberto por uma carapaça formada por inúmeros escudos [escamas]", acrescenta.

Aléssio ainda informa que o fóssil mais antigo de pangolim tem cerca de 45 milhões de anos. O biólogo diz ainda que, para se defender dos predadores, o pangolim se enrola sobre o próprio corpo, o que remete ao significado do nome da espécie, que é originário do termo malaio "peng-goling", que significa "aquele que se enrola".

Os pangolins se alimentam quase que exclusivamente de formigas e cupins. Em termos morfológicos e comportamentais, eles são muito parecidos com a nossa espécie de tamanduá, pois possuem grandes línguas finas e viscosas que auxiliam na captura de cupins. Esses animais vivem em ambientes sub-tropicais da África e do sudeste Asiático.

Curiosidades

Os pangolins são ótimos escaladores de árvores, porém, todas as suas espécies estão ameaçadas de extinção. Além disso, é um dos bichos mais traficados do mundo. Tanto em países africanos, como em países asiáticos, os pangolins são caçados para o consumo de sua carne e, principalmente, para o comércio das suas escamas. Na China é o lugar onde estas mais são vendidas. Desde 2017, o comércio internacional de pangolins foi proibido, mas, mesmo com a proibição, no mesmo ano, segundo um estudo da National Geographic, de junho de 2019, o governo chinês fez uma apreensão de mais de 11 toneladas de escamas de pangolins.

Hospedeiro do coronavírus

Atualmente, os pangolins têm sido apontados como possíveis transmissores de coronavírus, já que a sequência do genoma de nova cepa da doença separada de pangolins era 99% idêntica a de pessoas infectadas, o que indica que esses animais podem sim ser hospedeiros intermediários do vírus.

O professor Filipe Aléssio conclui a entrevista explicando que, caso seja confirmada a transmissão do coronavírus pelo pangolim, algumas motivações poderão ser apontadas. "O problema destas novas evidências é que não sabemos, ou não foram informadas pela mídia internacional, quais as espécies de pangolins foram analisadas. De toda forma, se for confirmado que o pangolim é o principal hospedeiro do coronavírus, a transmissão pode ter sido ocasionada pelo consumo da carne ou das próprias escamas do animal", finaliza.

Comércio de pangolim

Todos os anos, 100.000 pangolins são comercializados ilegalmente na Ásia e na África, sendo uma espécie mais cobiçada por traficantes de animais selvagens do que elefante, ou rinoceronte, segundo a ONG WildAid.

Sua carne é muito apreciada por chineses e vietnamitas, e suas escamas, ossos e órgãos, usados na medicina tradicional asiática.

Em 2016, a Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies Selvagens Ameaçadas de Extinção introduziu o pangolim em uma lista que proíbe sua comercialização. De acordo com as ONGs, porém, apesar desta medida, o tráfico ilegal dessa espécie continua aumentando.

 

Veja mapa que mostra como o coronavírus se espalha pelo mundo

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