Brasília - Os usuários de crack no Brasil são principalmente adultos jovens, com idade média de 30 anos, homens (78,7%), não brancos (80%) - o que inclui pretos, pardos e indígenas, por exemplo - e solteiros (60,6%). Além disso, têm, na maior parte dos casos, baixa escolaridade, sendo que apenas dois em cada dez cursaram ou concluíram o ensino médio. Em relação ao ensino superior, a proporção é ainda menor: cerca de 0,3% cursou ou concluiu esse nível de escolaridade.
Os dados fazem parte da pesquisa Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, divulgada hoje (19) pelos ministérios da Justiça e da Saúde. Encomendado pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o levantamento revela as principais características epidemiológicas dos usuários de crack e outras formas similares de cocaína fumada - pasta-base, merla e oxi - no país.
A pesquisa também aponta uma expressiva proporção de usuários em situação de rua, com aproximadamente 40% deles nessa condição. Nas capitais o percentual é mais elevado e chega a 47,3%, enquanto nos demais municípios do país 20% dos usuários regulares de crack relataram essa condição. Os pesquisadores ressaltaram que não significa que esse contingente necessariamente more nas ruas, mas que nelas passa a maior parte de seu tempo.
A maioria dos usuários (65%) obtém dinheiro por meio de trabalhos esporádicos ou autônomos. Atividades ilícitas, como tráfico de drogas e furtos, por exemplo, foram relatadas por uma minoria dos usuários (6,4% e 9% respectivamente). Embora o percentual não tenha sido alto, com apenas 7,5% dos usuários apontando o sexo em troca de dinheiro ou de drogas, os pesquisadores consideraram a frequência elevada se comparada à população geral, já que nesse caso a proporção de profissionais de sexo é inferior a 1%.
"O sexo comercial é uma fonte relevante de renda nessa população, embora não em harmonia com algumas informações equivocadas que chegam a atribuir à prática de sexo comercial o financiamento integral do hábito de consumo entre as mulheres", diz o texto.
Para coletar os dados, cerca de 500 profissionais como pesquisadores, assistentes sociais e psicólogos, foram a locais de consumo da droga, mapeados com a ajuda de fontes locais - secretarias de Saúde, Assistência Social e Segurança, além de organizações não-governamentais e lideranças comunitárias. Nesses locais, as equipes identificaram usuários, que foram entrevistados entre novembro de 2011 e junho de 2013. Ao todo, 7.381 usuários de crack em 112 municípios de portes variados - incluindo todas as capitais brasileiras - responderam às perguntas.
Além desse estudo, os ministérios divulgaram hoje a pesquisa Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, que indica a existência de 370 mil usuários regulares nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. O conjunto de dados é, segundo o Ministério da Justiça, o maior e mais completo levantamento feito sobre o assunto no mundo.