A epidemia do vírus Ebola tem obrigado as autoridades da Libéria a levar todos os mortos, sejam vítimas ou não da doença, para um crematório localizado a 15 km da capital Monróvia.
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"Queimamos todos os corpos, os que morreram co febre hemorrágica ou não. São ordens do ministério da Saúde", afirma Victor Lacken, porta-voz da Cruz Vermelha.
No pátio do crematório é possível ver um monte de cinzas com alguns ossos no meio.
"É depois da morte é que especialmente contagioso", explica, por sua vez, Laurence Sailly, coordenadora do Médicos Sem Fronteiras (MSF).
"Os corpos se convertem em um lugar ótimo para o vírus do Ebola continuar se multiplicando, já que o sistema imunológico não funciona mais".
"Não se sabe quanto tempo os corpos continuam sendo contagiosos. Por isso é preciso queimá-los o quanto antes, ou enterrá-los a mais de dois metros de profundidade. Decidimos queimá-los porque a camada freática aqui é muito alta", acrescenta.
"Em julho, alguns corpos foram enterrados em zonas pantanosas, mas subiram de novo à superfície. Só que a incineração é muito mal vista aqui culturalmente falando", explica ainda.
"É difícil explicar às pessoas que não devem cuidar de seus parentes nem enterrá-los da maneira tradicional", admitiu o ministro da Indústria e Comércio, Axel Addy.
Fazer o recolhimento dos corpos é problemático.
"Existem muitas protestos, e resistência por parte das famílias", conta Alex Wiah, chefe da equipe, que executa o trabalho que localizar e recolher os corpos.
A reação dos parentes não é refreada nem com o fato de a epidemia ter aumentado no país, que contabiliza mais da metade dos cerca de 3.000 mortos na África Ocidental. Algumas ONG e a Organização MUndial da Saúde (OMS) preveem mais milhares de mortos nos próximos meses.
"Às vezes, as pessoas são agressivas. Têm medo e não confiam no governo", acrescenta Johnson Chea, assistente social da unidade especial de Ebola.
A temporada de chuvas complica ainda mais a tarefa. "É muito mais perigoso quando chove. O vírus, que se transmite através dos fluidos, não pelo ar, se propaga com a água", explica Alex Wiah.
O trabalho também implica desinfetar a casa do falecido.
Wiah afirma que o trabalho não lhe parece tão aterrador porque, antes de suas novas funções, era embalsamador de corpos.
E as pessoas envolvidas nesse mutirão sanitário procuram se consolar com o salário que recebem: 1.000 dólares por mês, uma fortuna na Libéria.