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Após discursos voluntariosos, negociações climáticas patinam na COP21

Até o momento, o texto que está na mesa comporta 55 páginas e uma multidão de opções em cada capítulo

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Publicado em 02/12/2015 às 17:35
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Até o momento, o texto que está na mesa comporta 55 páginas e uma multidão de opções em cada capítulo - FOTO: Divulgação
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"É preciso acelerar": as delegações dos 195 países foram duramente chamadas à ordem nesta quarta-feira pelo presidente da Conferência do Clima de Paris (COP21), Laurent Fabius, num momento em que as negociações para o tão esperado acordo estão patinando em inúmeros pontos. 

"Minha mensagem é muito clara: é preciso acelerar o processo porque ainda temos muito trabalho pela frente", declarou à imprensa o chefe da diplomacia francesa, fazendo um primeiro balanço das negociações que entraram no cerne da questão na terça-feira. 

"Fórmulas de compromisso devem ser começar a ser reveladas o mais rapidamente possível, os chefes de estado e de governo nos deram segunda-feira um mandato sem ambiguidade, nós temos que conseguir", disse ainda Fabius, no parque de exposições de Le Bourget (norte de Paris).

Após os grandes discursos de uma cúpula inédita, com 150 chefes de estado reunidos para a abertura da COP21, as delegações tentam agora chegar a um consenso sobre um projeto de acordo que permitirá limitar o aquecimento a 2°C com relação à era pré-industrial, a fim de preservar a humanidade das piores consequências das mudanças climáticas. 

Até o momento, o texto que está na mesa comporta 55 páginas e uma multidão de opções em cada capítulo. 

"Em nenhum ponto nós estamos fazendo os progressos necessários", declarou o norte-americano Daniel Reifsnyder, um dos dois presidentes do grupo de trabalho sobre o projeto de acordo, durante uma reunião das delegações. 

 

- "A frustração está aumentando" - 

Segundo um negociadores europeu, "a frustração está aumentando". 

O calendário é apertado. "Eu pedi (...) um projeto de acordo para sábado ao meio-dia", informou Laurent Fabius. "O objetivo é que muitas opções tenha sido retiradas até o final desta semana", antes que os ministros dos vários países assumam as negociações na segunda-feira.

"A questão do financiamento é a mais difícil", disse Alden Meyer, da ONG União Americana de Cientistas Preocupados. Os países em desenvolvimento necessitam de assistência dos países industrializados para enfrentar o aquecimento global, e fizeram disso uma de suas linhas vermelhas.

Filósofa e cheia de experiências em inúmeras COP, a responsável pelo clima da ONU Christiana Figueres buscou não ser tão dramática.

O texto "vai experimentar altos e baixos, haverá muitas vírgulas que serão adicionadas, outras que serão removidas (...). O produto final não ocorrerá até o final da próxima semana", alertou.

A rara boa notícia do dia pareceu vir de Pequim, o maior poluidor do mundo, que indicou sua intenção de modernizar suas plantas de carvão até 2020 para reduzir suas emissões de poluentes em 60%.

Mas para o especialista do Greenpeace em política chinesa, Li Shou, "isso não é novo". "Essa decisão já aparece nos planos nacionais. Eles decidiram formular as coisas de maneira mais explícita", disse à AFP. "São números antigos", afirmou Lo Sze Ping, da WWF China.

Nesta quarta-feira, 185 países de 195, cobrindo cerca de 95% das emissões de gases de efeito estufa, anunciaram medidas para limitar, quiçá reduzir, as emissões poluentes visando 2025 ou 2030, segundo Fabius. 

Eles ainda devem crescer 22% entre 2010 e 2030, colocando o mundo no caminho de um aquecimento entre 2,7°C e 3,5°C em relação à era pré- industrial.

 

- "Responsabilidade histórica" - 

O objetivo da COP21 é chegar a um acordo sobre um mecanismo para garantir uma revisão dos objetivos, fazer atualizações regulares - a cada cinco anos é a periodicidade mais provável - sobre os esforços fornecidos e os que ainda restam ser feitos. 

As discussões sobre os mecanismos de revisão "avançam mais lentamente", segundo a Fundação Hulot. A Índia deu seu acordo para um balanço "a cada cinco anos, mas não antes de 2020", embora alguns países desejem que a primeira revisão ocorra até a entrada em vigor do acordo prevista em 2020. 

A questão da parte que os grandes países emergentes devem ter no esforço comum para reduzir os gases de efeito estufa é um dos assuntos mais espinhosos - esses países reivindicam seu direito ao desenvolvimento e à "responsabilidade histórica" dos países ricos no aquecimento. 

A ONG Oxfam apontou num relatório publicado nesta quarta-feira que 10% dos habitantes mais ricos do planeta eram responsáveis por quase metade das emissões de CO2, enquanto a metade mais pobre do globo é responsável apenas por 10% dos rejeitos poluentes. 

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