O número de internautas cresceu quase três vezes desde a última campanha presidencial, passando de 43 para 105 milhões, segundo o instituto Ibope. As redes sociais deixaram de ser novidade, para se tornar ferramentas cada vez mais utilizadas pelos candidatos à eleição. Nelas, ao contrário do guia eleitoral televisivo, o tempo de exposição é elástico. Tem-se também a falsa ideia de liberdade total, sem qualquer controle sobre as opiniões que se propagam. Na hora de exercer seu “click-ativismo”, curtindo, comentando e compartilhando, muita gente cria confusões, perde amigos na “vida real” e chega a cometer crimes, como calúnia e difamação.
De olho no que acontece nas redes, alguns partidos e candidatos também chegam a jogar sujo, veiculando peças apócrifas para acusar ou ridicularizar seus oponentes. Outros, tentam correr atrás do prejuízo, pedindo reparação judicial - muitas vezes, ineficaz perante o tempo e o poder de disseminação da web.
Para o publicitário André Vouga, professor de marketing digital na UFPE, o impacto desse tipo de mídia no processo eleitoral é importante, porém menor do se imaginava. “Muitos dizem que o quadro eleitoral mudou bastante, depois que começou o guia da TV”, ressalta. Grande parte do poder formador de opinião continua sob a responsabilidade da mídia tradicional (jornais, revistas, TV), o que se explica também pela forma de funcionamento da internet. “Nas redes sociais, as pessoas não trocam realmente figurinhas, não se expõem à diferença, e por isso o espaço acaba funcionando apenas como um sistema de reafirmação de opiniões, mais do que um fator de provocação da mudanças. A própria discussão gerada acaba criando dificuldades nesse sentido, embora exista algum grau mínimo de exposição às diferenças”, detalha.
Segundo o psicoterapeuta especializado em comportamento online, Igor Lins Lemos, da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), “é comum as pessoas fazerem postagens reiterando as questões em que acreditam, fortalecendo suas ideias. E não aceitam críticas”. Isso vale tanto para irmãos que deixam de se falar porque um vota em Dilma e o outro em Aécio, como para os xingamentos cabeludos que um completo desconhecido se sente à vontade para disparar no perfil alheio.
“Houve uma diminuição da capacidade das pessoas de tolerar a opinião de terceiros. É como se fosse uma ofensa pessoal. Muitas vezes, a exibição de partidos ou candidaturas é apenas metafórica, pois o que a pessoa está querendo expor não são suas ideias políticas, e sim suas posições pessoais. Aí, a web vira um instrumento para mostrar que se é melhor que o outro. A política se torna um ponto de partida, mas a briga poderia começar com base em qualquer outro tema”, analisa. Dependendo do caso, se há predisposição para transtornos psíquicos, o estresse gerado nesse tipo de discussão pode desencadear surtos e outros problemas.
Outros aspectos das redes, porém, são positivos, embora representem possibilidade preocupante para alguns políticos: por meio de poucos cliques, faz-se o resgate de ações e opiniões passadas. “O registro está lá, solidificado. Não dá mais para esconder informações, e isso é um aspecto muito positivo”, diz André Vouga. “Esse padrão disse e desdisse que a candidata Marina Silva apresentou em relação ao público de lésbicas, gays e transgêneros, por exemplo, tem sido muito criticado, porque contrariou o próprio histórico da candidata, deixando em boa parte dos eleitores uma sensação de falta de confiança”.