Preso desde fevereiro como chefe de um esquema de corrupção e exploração de jogos ilegais, o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi autuado por desacato e desobediência, após se desentender com um agente penitenciário e o mandar "para um lugar impublicável", segundo relato de testemunhas.
O incidente ocorreu na quinta-feira à tarde (21), pouco antes da transferência do contraventor da ala federal do presídio da Papuda para um setor de presos provisórios comuns.
Cachoeira queria assistir ao noticiário do julgamento de seu habeas corpus pela TV, mas foi impedido pelo agente. O contraventor se descontrolou e xingou o servidor. Outros agentes foram destratados. O bicheiro disse que tinha amigos influentes, que logo sairia da prisão e que depois iria à forra com quem o tratasse mal.
A defesa explicou que Cachoeira anda muito deprimido, tem problemas de saúde e seu estado piorou com as últimas notícias. A justiça negou seu pedido de liberdade e ainda cassou o habeas corpus que o mantinha na ala federal numa cela de 12 metros quadrados, na qual instalou uma TV desde que chegou, em abril passado.
A discussão começou porque o agente penitenciário o impediu de usar o aparelho fora do horário permitido no regulamento. "Ele estava num dia péssimo, muito mal de cabeça e teve um momento infeliz de desabafo, apenas isso", resumiu a advogada Dora Cavalcanti. "Foi uma discussão boba sobre televisão", minimizou. Ela disse que pediu um exame psiquiátrico para atestar a condição deplorável em que se encontra o cliente.
O agente sentiu-se ofendido com a ofensa verbal e prestou queixa na Superintendência da Polícia Federal, onde registrou termo circunstanciado de ocorrência. Cachoeira foi levado para depor na PF e retornou ao presídio na noite de quinta. Ele foi indiciado por desacato e desobediência, um delito de baixo potencial que pode dar de seis meses a dois anos de detenção em regime aberto. Mas o caso pode ser arquivado com um pedido de desculpas.
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), responsável pela custódia, a queixa prejudica a ficha de bom comportamento que Cachoeira vinha mantendo até agora, mas não afeta seus direitos e deveres de preso provisório, uma vez que não houve agressão física. Ele continua com direito a ver televisão e ler livros, a visitas de familiares e banho de sol diário.