O empresário Shinko Nakandakari, a quem o diretor da Galvão Engenharia Erton Medeiros Fonseca informou ter pago R$ 8,8 milhões em suposta propina para obter contratos na Petrobras, quer ser ouvido pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. Ele encaminhou ofício nesta terça-feira (25) ao juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso.
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No pedido, protocolado pelos advogados Pedro Luiz Bueno de Andrade e Rogério Fernando Taffarello, o empresário diz "estar à inteira disposição da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, para colaborar com as investigações em tudo o que for necessário".
Na petição, Shinko não ataca diretamente o empreiteiro Erton Fonseca, dizendo apenas que "a versão unilateral apresentada por essas matérias jornalísticas decididamente não corresponde à verdade, e Shinko Nakandakari precisa ser ouvido pelas autoridades a fim de trazer os fatos de volta à realidade".
Conforme notas fiscais e recibos eletrônicos apresentados à Justiça Federal pela Galvão Engenharia, a firma de consultoria de Shinko, registrada em nome dele (com 98% das cotas) e de dois filhos seus, recebeu de forma parcelada R$ 8,8 milhões entre 2010 e junho de 2014. As notas fiscais emitidas por Shinko falam em "consultoria" e "prestação de serviços".
Erton Fonseca afirmou que nos seus primeiros contatos com Shinko, no ano de 2010, o consultor lhe foi apresentado como um emissário da Diretoria de Serviços da Petrobras, então comandada por Renato Duque, com a tarefa de recolher "comissões" sobre os contratos -à semelhança do papel desempenhado pelo doleiro Alberto Youssef nos contratos relativos à diretoria de Abastecimento. A área de Serviço na época era da cota de indicações do PT.
Depois dos primeiros contatos, Fonseca disse ter se reunido com Shinko na companhia de um auxiliar direto de Duque, o gerente de engenharia Pedro Barusco, que já fechou uma delação premiada com a Lava Jato e promete devolver à União US$ 97 milhões em propinas que recebeu no exterior.
De acordo com Fonseca, a Galvão foi orientada a fazer pagamentos para as contas de Shinko a fim de obter futuros contratos na Petrobras. Caso o pagamento não ocorresse, a empreiteira teria dificuldades.
Conforme a petição protocolada pela defesa da Galvão Engenharia, os pagamentos para Shinko ocorreram em decorrência de "uma efetiva ameaça de retaliação das contratações que a Galvão Engenharia tinha com a Petrobras caso não houvesse o pagamento dos valores estipulados de maneira arbitrária, ameaçadora e ilegal".
A reportagem tenta ouvir Nakandakari desde o último domingo (23). No endereço indicado como sede de sua firma de consultoria LFSN, um prédio comercial no Brooklin, ninguém foi encontrado na segunda (24). Na portaria, disseram que não poderiam confirmar nem negar a existência de tal empresa. Na petição encaminhada hoje à Justiça Federal, Nakandakari não informa o seu endereço profissional, apenas o residencial, em São Paulo.