O executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, que fez acordo de delação premiada no âmbito da força-tarefa da Operação Lava Jato (Polícia Federal e Ministério Público Federal), negou em depoimento que tenha feito doações eleitorais como pagamento de propina.
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A fala é oposta à de Augusto de Mendonça Neto, também delator da Toyo Setal, segundo a qual empresas fizeram doações legais ao PT como contrapartida a obter e manter contratos com a Petrobras.
Camargo e suas três empresas de consultoria --Auguri, Piemonte e Treviso--, que segundo ele fechavam contratos com construtoras para intermediar o pagamento de propina na Petrobras, doaram R$ 4,2 milhões nas eleições de 2008, 2010 e 2012, a políticos de 11 partidos.
O executivo afirmou em depoimento à Polícia Federal que as doações eram feitas "dentro dos limites previstos em lei e de forma espontânea", a pedido dos candidatos ou dos partidos. Com alguns, ele disse ter relações de amizade, como o ex-senador Romeu Tuma (PTB), morto em 2010, e o senador Delcídio Amaral (PT-MS) --que foi diretor de Gás e Energia da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso, por indicação de Jader Barbalho (PMDB-PA).
O PT recebeu mais da metade das doações de Camargo, totalizando R$ 2,6 milhões. Em seguida, aparecem PTB, PR e PMDB. O executivo declarou, porém, que nunca fez doações ilegais a candidatos ou partidos nas eleições.
DELAÇÕES - Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal --empresa que tem contratos de cerca de R$ 4 bilhões com a Petrobras--, foi o primeiro dos executivos das grandes empresas a assinar um acordo de delação, no final de outubro. Ele foi seguido por Augusto de Mendonça Neto, da mesma companhia.
Os dois afirmaram terem entregue R$ 30 milhões em propina para a diretoria de serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque entre 2003 e 2012. As autoridades apontam Duque como o principal operador do PT no esquema.
O nome de Camargo havia sido citado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, em um documento apreendido pela Polícia Federal na casa dele. No papel, Costa enumera o nome de executivos de fornecedores da Petrobras e a disposição de cada um para contribuir para uma campanha política.
Após o nome de Camargo, o ex-diretor anotou: "Começa [a] ajudar a partir de março".
Camargo também disse que o lobista Fernando Soares, apontado como operador do PMDB na Petrobras, recebeu uma comissão de US$ 40 milhões para intermediar dois contratos junto ao ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró.
Segundo o executivo, o lobista, conhecido como Fernando Baiano, mantinha um "compromisso de confiança" com Cerveró.