Em seu primeiro discurso público após o resultado das eleições presidenciais, Marina Silva (PSB) fez nesta sexta-feira (12) uma fala bastante enigmática em que chamou o processo eleitoral de "doloroso" e "avassalador" e disse que um governo sem programa está suscetível a "dissimulações".
Segundo a ex-senadora, "colocar as coisas no papel evita dissimulação" e possibilita que se "pague o preço das posições que se assume".
"É muito triste ver os documentos que são feitos irem sempre para as prateleiras. Por mais doloroso e avassalador que tenha sido o processo político --não para pessoas, mas para os avanços da qualidade democrática--, é muito bom ver que muitas das coisas que estão aqui também estiveram em um programa de governo, para evitar dissimulação das coisas e poder pagar o preço das posições que se assume", disse Marina no lançamento da "Plataforma Brasil democrático e sustentável", em São Paulo.
Durante a campanha, a terceira colocada na disputa pelo Palácio do Planalto fez críticas constantes a seus adversários, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB), por não terem apresentado um programa de governo. O texto da candidatura de Marina, porém, foi muito contestado por petistas e tucanos por causa de recuos como a retirada de trechos que defendiam a ampliação de direitos da comunidade gay.
No evento promovido pelo IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade), ONG da qual Marina e diversos de seus aliados fazem parte, a ex-senadora discursou por 12 minutos e fez questão de dizer que estava sendo cautelosa com as palavras e fazendo uso de seu vocabulário metafórico, apelidado por ela mesma de "marinês castiço". "Estou sendo muito cuidadosa com o que digo. É a primeira vez que falo em público (depois das eleições)", afirmou.
APOIO A AÉCIO - Mesmo assim, Marina não deixou de justificar indiretamente seu apoio a Aécio Neves no segundo turno e disse que é preciso "continuar assumindo posição, sem medo de assumi-las, para o bem do país".
Segundo Marina, é preciso se arriscar e não permanecer "confortável na forma de si mesmo". "Quando você está apegado e gosta muito da forma de si, você já se transformou em um conservador".
Em 2010, após também ficar em terceiro lugar na disputa presidencial, a ex-ministra do Meio Ambiente não declarou apoio a nenhuma das duas candidaturas que concorriam ao segundo turno, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Este ano, no entanto, avaliou que era válido uma aliança com os tucanos para tentar tirar o PT do poder.