Igreja Universal

Grupo religioso "Gladiadores do Altar" causa preocupação

Projeto teria sido criado em janeiro passado e já envolve cerca de 4.300 jovens em todo o Brasil

Mariana Mesquita
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Mariana Mesquita
Publicado em 15/03/2015 às 13:45
Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
Projeto teria sido criado em janeiro passado e já envolve cerca de 4.300 jovens em todo o Brasil - FOTO: Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados
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Após a recente divulgação de vídeos dos “Gladiadores do Altar”, que integram a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), grupos ligados às religiões africanas e ao movimento LGBTTT (que envolve lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) vêm manifestando sua preocupação em relação ao “exército” que estaria sendo organizado, e que de acordo com a própria IURD congregaria, no momento, cerca de 4.300 jovens em todo o Brasil. As denúncias fazem paralelos entre a nova “milícia” e os paramilitares nazistas ou os atuais movimentos islâmicos, que “matam e torturam em nome da fé”. Eles destacam que o Código Penal brasileiro considera delito a constituição de milícia privada.

No último dia 7, o babalorixá Sivanilton Encarnação da Mata, da Casa de Oxumaré (BA), divulgou uma carta aberta sobre “massacre cultural e religioso” promovido pela IURD e declarou sua apreensão acerca do “exército de evangelizadores”. “Se as cenas já são assustadoras no ambiente controlado das igrejas, há que se imaginar o que esses ‘soldados da fé’ podem fazer nas ruas, longe da vigília de seus ‘comandantes-pastores’”, destacou a carta, frisando que “a mistura explosiva entre fé e força produz resultados imponderáveis”.

O documento foi enviado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), ao Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos da ONU, ao Ministério da Justiça e a diversos órgãos brasileiros ligados aos Direitos Humanos, inclusive no Poder Legislativo.

Para o presidente do Movimento Gay Leões do Norte, Weligton Medeiros, “esse movimento é um perigo, pois vai-se chegar à violência física em algum momento e a vida dos homossexuais, para eles, não tem valor”. “Ainda não temos notícia deste tipo de milícia aqui em Pernambuco, mas não vai tardar”, alertou.

Na semana passada, após a imprensa divulgar imagens dos “gladiadores” no Ceará e no Rio de Janeiro, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) pediu ao Ministério Público que investigasse o assunto, já que os soldados estariam sendo “treinados e formados para servir ao altar, sem propósito claro”.

A IURD rebateu as acusações afirmando que o projeto, criado em janeiro de 2015, “utiliza a analogia militar de forma positiva e pacífica” e se dedica à “orientação e formação de jovens vocacionados para a propagação da Fé Cristã”. Para a igreja, “buscar uma motivação violenta ou condenável” no grupo seria “tão absurdo quanto enxergar orientação fascista em instituições como o Exército da Salvação e o Movimento Escoteiro”.

 

“NÃO VIVEMOS GUERRA SANTA", DIZ PROFESSOR

A Igreja Universal do Reino de Deus tem sido alvo de dezenas de estudos acadêmicos, e todos os especialistas ouvidos pelo JC defendem cautela ao falar dos “Gladiadores do Altar”. “Não está claro se isso é uma política generalizada ou de um templo específico”, diz a doutora em Comunicação e professora da UFPE, Carolina Dantas. Segundo ela, não seria estratégico para a IURD a institucionalização da violência, sob o risco de perder seguidores. “É preciso, se for o caso, denunciar, mas alimentando o Estado de Direito e não o pânico”, destaca.

Para o doutor em Antropologia e professor da UFCG, Eduardo Gusmão, “existe uma legislação no País sobre o desrespeito religioso. Não vivemos uma guerra santa. Estão dando uma atenção a esse fato exclusivo que ele não merece”. O doutorando em Antropologia pela UFPE Cleonardo Maurício Júnior também considera as análises alarmistas. “Olhando aqueles vídeos, o que eu vejo é uma metáfora extremamente infeliz. O fato é que os pentecostais vivem as palavras, as simbologias da Bíblia, como realidade em seu cotidiano. E a Bíblia tem várias passagens falando acerca do Exército de Deus. Não é uma imagem agradável, mas não é por isso que se pode afirmar que eles vão sair da igreja atacando as pessoas”, finalizou.

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