Enfrentando problemas com a articulação política no Congresso e em um dia marcado por notícias negativas na economia, a presidente Dilma Rousseff tentou sair da defensiva articulando a definição de três novos ministros.
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Dilma pôs um petista para comandar a comunicação do governo, escolheu um nome para tentar se reconciliar com a ala do PMDB na Câmara, onde seu governo tem enfrentado derrotas, e nomeou um acadêmico para substituir na Educação um político que saiu após brigar no Congresso.
Pela manhã, depois do anúncio de que a economia ficou estagnada no ano passado e agora caminha para a recessão, Dilma divulgou o nome do petista Edinho Silva, que foi seu tesoureiro de campanha, para comandar a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência.
No início da noite, oficializou a escolha do professor da USP Renato Janine Ribeiro para substituir Cid Gomes, que deixou o governo depois de um embate com a base aliada do governo em sessão tumultuada no Congresso.
Fez ainda um gesto na direção da bancada do PMDB na Câmara, comandada pelo deputado Eduardo Cunha (RJ), e convidou oficialmente o ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo.
A nota confirmando a indicação do peemedebista estava praticamente pronta, mas a divulgação foi suspensa à noite porque faltava um sinal verde vindo do PMDB de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) não vai se opor à escolha, já que Eduardo Alves irá ocupar o lugar de Vinicius Lages, afilhado político de Renan.
Edinho substitui o jornalista Thomas Traumann, que pediu demissão na quarta (25) depois do vazamento de uma análise interna da secretaria com críticas ao PT e à comunicação do governo.
Ex-prefeito de Araraquara (SP) e ex-deputado estadual, Edinho atualmente estava dando aulas em uma faculdade particular. Ele aceitou o convite depois de se reunir com Dilma no Palácio do Planalto. Sua posse está marcada para a próxima terça (31).
À reportagem o novo ministro afirmou que a presidente pediu a ele a implantação de uma "política de diálogo" com os meios de comunicação e elogiou seu antecessor.
Sobre o desejo do PT de controlar a distribuição de verbas publicitárias da área de comunicação para beneficiar grupos simpáticos ao governo, Edinho disse que a presidente foi clara na orientação para "manter critérios técnicos" na distribuição das verbas publicitárias do governo.
"Só quem não me conhece pode imaginar que eu assumiria um posto desta importância para fazer algum tipo de manipulação. Os critérios são técnicos e vão continuar assim", afirmou Edinho.
Na Educação, área considerada prioritária por Dilma, a presidente optou por um ministro com perfil oposto ao de Cid Gomes, que construiu sua carreira na política e não "media as palavras", segundo seus próprios aliados, quando discordava de algo.
Janine fez carreira na academia. Professor de Ética e Filosofia Política na USP (Universidade de São Paulo), ele trabalhou no governo Lula de 2004 a 2008 como diretor de Avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do Ministério da Educação.
Sua escolha surpreendeu porque a pasta da Educação era disputada por petistas e peemedebistas e, recentemente, ele fez críticas duras tanto a Dilma como ao PT.
Em entrevista à edição de março da revista "Brasileiros", Janine criticou o fato de os avanços sociais do país nos últimos anos terem ocorrido pela via do consumo e disse que a presidente Dilma está isolada porque não dialoga.
Ele também criticou a falta de uma explicação mais clara do governo para as medidas do ajuste fiscal e disse que Dilma não dá autonomia aos integrantes de sua equipe. "Os ministros continuam tendo as orelhas puxadas cada vez que falam uma coisa de que ela não gosta", disse.
A oficialização do nome de Henrique Eduardo Alves esbarrava, dentro do PMDB, em dois aspectos. Renan Calheiros, que esteve na quinta-feira (26) com o ex-presidente Lula, quer uma compensação pela eventual perda da pasta do Turismo. Gostaria de indicar um nome para o Ministério da Integração Nacional.
Além disso, a entrega de um ministério neste momento a um expoente do PMDB contraria o discurso de Renan e Eduardo Cunha, que em público passaram a defender o corte de metade dos ministérios. A assessores, a presidente disse que estava tudo em suspenso, depois de ter acertado a indicação com o próprio Henrique Alves.