A forte alta do dólar registrada na manhã desta quarta-feira (27) perdeu força durante a tarde, após a presidente Dilma Rousseff, no México, afirmar que a posição de Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) no governo é "extremamente estável". O mercado teme que Levy deixe o cargo por estar enfrentando resistência para aprovar as medidas de ajuste fiscal.
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Após subir até R$ 3,184 ao longo do dia, ou 1,11%, o dólar à vista (referência no mercado financeiro) fechou em alta de 0,41% sobre o real, cotado em R$ 3,163 na venda. É o maior nível desde 31 de março, quando estava em R$ 3,203. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, encerrou o pregão em baixa de 0,15%, para R$ 3,145, após ter subido até 1,14% na sessão, máxima de R$ 3,186.
O mercado segue cauteloso em relação ao reequilíbrio das contas públicas no Brasil, um dia após o Senado ter aprovado a medida provisória 665, que restringe o acesso a benefícios trabalhistas com o objetivo de cortar gastos públicos obrigatórios.
A avaliação de analistas é que, apesar de o governo ter vencido uma importante batalha, ainda há muito trabalho a fazer para que o país consiga cumprir a meta de superavit de 1,1% do PIB em 2015. Além disso, os ruídos de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem enfrentado resistência dentro do governo para dar sequência ao processo de ajuste fiscal deixam os investidores na defensiva, à espera de resultados.
"A reação do mercado diante de rumores sobre a saída de Levy da Fazenda é mais aflição do que medo. Se fosse medo, teria um 'sell off' [venda generalizada] muito forte na Bolsa [e consequente corrida para o dólar, aumentado seu preço]", disse Raphael Figueredo, da Clear Corretora.
"O mercado acredita na continuação do Levy no comando da Fazenda. Seria muito ruim ter, novamente, instabilidade no governo com a troca de ministros importantes. Quem iria assumir a Fazenda para refazer o programa de ajuste fiscal e convencer o Planalto?", completou o analista.
Embalado pela melhora no humor dos investidores pela tarde, o principal índice da Bolsa brasileira, que oscilou entre perdas e ganhos durante boa parte do pregão, firmou tendência positiva e encerrou o dia em alta de 1,13%, aos 54.236 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,630 bilhões.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global, a melhora dos mercados nesta quarta (27) refletiu um ajuste ao desempenho dos últimos dias, quando o dólar subiu muito e a Bolsa, caiu. "Esse ajuste foi possível também pelo clima mais amistoso na Europa, onde o governo grego tem se mostrado mais disposto a negociar os termos de um acordo com outros países europeus e o FMI a fim de ajudar a Grécia a sair da crise", disse.
Figueredo, da Clear, ressaltou ainda que, em dólar, os ativos começaram a ficar "mais baratos", o que atrai mais compradores e ajuda a Bolsa a se recuperar. "A gente teve uma sequência de quedas fortes e o mercado acabou aproveitando pechinchas."
JURO AMERICANO
Analistas ressaltaram que, especialmente no câmbio, o rumo do juro básico nos EUA deve continuar no radar dos investidores. Resultados recentes de indicadores sinalizaram fortalecimento da economia americana e o discurso da presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Janet Yellen, na semana passada, deixou claro que a intenção da autoridade é começar a elevar a taxa de juros daquele país ainda em 2015.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
O cenário é agravado pela perspectiva de menor intervenção do Banco Central do Brasil no câmbio. Nesta quarta (27), a autoridade monetária rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos de swap que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 395,4 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
AÇÕES
No mercado de ações, os avanços de Petrobras, Vale e dos bancos sustentaram o Ibovespa no azul. No setor bancário, segmento com maior peso dentro do índice, o Itaú ganhou 2,03%, para R$ 35,62, enquanto o Bradesco subiu 2,71%, para R$ 29,17. Esses papéis haviam sido penalizados nos últimos pregões, após o aumento, na semana passada, da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) de 15% para 20%.
A Petrobras viu sua ação preferencial, mais negociada e sem direito a voto, avançar 1,29%, para R$ 12,55, devolvendo parte da perda de mais de 7% registrada nos últimos três pregões. O papel ordinário, com direito a voto, ganhou 1,20%, para R$ 13,52.
As ações preferenciais da Vale tiveram ganho de 0,74%, para R$ 17,58, ampliando a alta de mais de 5% nos últimos quatro pregões, na esteira da recuperação nos preços do minério de ferro no mercado à vista da China –principal destino das exportações da mineradora brasileira.