Representantes do partido opositor venezuelano Voluntad Popular (VP) entregaram nesta sexta-feira (19) à Embaixada do Brasil na Venezuela uma carta de agradecimento destinada aos senadores brasileiros que, na véspera, não conseguiram cumprir agenda de visita em Caracas.
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Liderado por Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloyisio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o grupo de oito senadores não conseguiu sair do aeroporto porque a van que os transportava ficou parada num trânsito que, segundo críticos, foi orquestrado propositalmente pelo governo do presidente Nicolás Maduro.
O principal objetivo da visita era tentar visitar na prisão o líder do VP, Leopoldo López, que está detido há mais de um ano na prisão de Ramo Verde, perto de Caracas, por instigar violentos protestos antigoverno em 2014.
Os integrantes do VP (entre os quais havia um deputado, vereadores e militantes da base) chegaram por volta de 12h15 (13h45 em Brasília) no prédio que abriga a embaixada brasileira. Formaram fileiras nas quais cada um ostentava cartaz com uma letra da mensagem "Dilma abra as olhos", em português.
Os 20 membros do VP foram então informados de que não poderiam subir. Após esperarem 40 minutos, foram atendidos pelo conselheiro José Solla, que recebeu o documento, agradeceu e se comprometeu a encaminhá-lo a Brasília.
"Agradecemos profundamente à iniciativa dos senadores que, lamentavelmente, foram impedidos de cumprir sua agenda", disse o deputado Juan Guaido.
"Queríamos ter entregado a carta ontem [quinta], mas não foi possível devido aos entraves colocados pelo governo", afirmou Guaido, que diz estar em greve de fome há nove dias em apoio a López.
López parou de comer há 25 dias para exigir a libertação de dezenas de opositores presos e o anúncio da data da eleição parlamentar do fim deste ano.
"Esta não é a natureza real dos venezuelanos. Não tratamos assim nossos visitantes, somos amistosos", disse Guaido à reportagem, em referência ao comboio dos senadores, que chegou a ser cercado por manifestantes hostis no momento em que saía do terminal do aeroporto para tentar chegar à rodovia em direção ao centro.
O deputado também criticou o descompasso entre a maneira com que o presidente do Parlamento venezuelano, Diosdado Cabello, foi recebido em recente viagem a Brasil e o tratamento dado aos senadores brasileiros.
Cabello foi recebido pela presidente Dilma, pelo ex-presidente Lula e pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.
REAÇÃO GOVERNISTA
Partidários de Maduro criticaram a visita dos senadores. A vice-presidente do Parlamento, Tania Díaz, acusou a comitiva de querer "torpedear" as relações com o Brasil.
O defensor do povo (espécie de ombudsman para temas de direitos humanos), Tarek William Saab, disse que se tratou de uma visita "inamistosa" que feriu a "soberania da Venezuela".