A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira (2) mais uma fase da Operação Lava Jato, na qual foi preso o ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada. Também estão sendo cumpridos quatro mandados de busca e apreensão, três deles no Rio de Janeiro e um em Niterói (RJ).
A 15ª fase foi intitulada Conexão Mônaco, em referência a operações financeiras do ex-diretor no principado de Mônaco.
Zelada foi preso sob a suspeita de envolvimento em crimes de corrupção, fraude em licitações, desvio de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
O ex-diretor da estatal será levado para a sede da Polícia Federal em Curitiba.
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Como a Folha de S.Paulo revelou em maio, autoridades de Mônaco investigaram Zelada e descobriram a ligação dele com o consultor Raul Schmidt Felippe Júnior, que trabalhou para o estaleiro coreano Samsung num contrato em que surgiram indícios de pagamento de propina.
O ex-diretor da área internacional da Petrobras mantém negócios particulares com Raul. Documentos localizados pela Folha na junta comercial da Suíça mostram que Zelada passou a integrar o quadro de diretores da companhia TVP Solar, baseada em Genebra, em março de 2013, pouco depois de sair da Petrobras. Schmidt investe na companhia desde 2010.
A TVP Solar vende sistemas de armazenamento e uso de energia solar e tem capital de 2,66 milhões de francos suíços (R$ 8,9 milhões).
Também em maio, com base em documentos remetidos pelas autoridades de Mônaco ao Brasil, a Folha apontou indícios de que Schmidt atuou como intermediário de uma complexa operação financeira que resultou num depósito de US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) para outro ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, em Mônaco.
A origem do dinheiro foi a Samsung, beneficiada por um contrato que, segundo auditoria da Petrobras, teve sobrepreço de R$ 118 milhões.
CONTAS EM MÔNACO
Em fevereiro deste ano, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, delator que assumiu ter desviado milhões de dólares da Petrobras, afirmou que Zelada também era beneficiário do esquema.
Na época, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, pediu à Justiça de Mônaco uma apuração sobre possíveis contas de Zelada e Duque no principado. A investigação resultou no bloqueio de uma conta em nome da offshore Rockfield International, onde estavam os 10,8 milhões (R$ 32,8 milhões) atribuídos a Zelada, no banco Julius Baer. De Duque foram congelados; 18,7 milhões no mesmo banco.
Assim como procedeu no caso de Duque, foi Raul Schmidt quem apresentou Zelada a um executivo do Julius Baer para abertura da conta, em fevereiro de 2011, quando ele ainda ocupava a diretoria internacional da Petrobras.
No dossiê do banco, constam cópias do passaporte de Zelada e de uma conta de luz de seu apartamento no Rio, além da assinatura dele em vários documentos para abertura da Rockfield e para movimentação do seu dinheiro.
AMIGOS
Ex-funcionário da Petrobras, Raul Schmidt fez carreira na área internacional da estatal. Entre 1994 e 1997, foi gerente da Braspetro em Angola, antes de ir para a iniciativa privada. Desde 2007, atua na intermediação de negócios de fornecedores da Petrobras. Ele vive em Londres, mas tem imóveis e empresas no Rio, em Genebra e Paris.
De acordo com o Ministério Público de Mônaco, um executivo do banco Julius Baer informou que Zelada e Schmidt são "amigos de longa data" e foram proprietários de um apartamento entre 2012 e 2013.
O ex-diretor teria comprado a parte do consultor no imóvel. No mesmo período, extratos mostram que Zelada transferiu 809 mil (R$ 2,8 milhões) para Schmidt.
OUTRO LADO
O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada disse em e-mail encaminhado à Folha por seu advogado, Eduardo de Moraes, que não é sócio do consultor de petróleo Raul Schmidt Felippe Júnior na TVP Solar SA, empresa baseada em Genebra. O executivo afirmou que apenas faz parte do conselho da empresa.
Zelada também negou ter imóvel em sociedade com Schmidt ou possuir contas em Mônaco, como afirmam as autoridades do principado. Ele voltou a classificar como "inverídicas" as declarações do ex-gerente Pedro Barusco, que o acusa de ter recebido suborno na estatal.
Também citado nos documentos enviados pelo Ministério Público de Mônaco às autoridades brasileiras, o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque também nega ser dono de contas em Mônaco.