Investigação feita pelo Ministério Público da Suíça aponta que subsidiárias da Odebrecht no exterior estão na origem de pagamentos que somaram US$ 17,6 milhões (R$ 59 milhões) a ex-dirigentes da Petrobras em contas secretas na Europa.
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Segundo documentos compartilhados com os procuradores da Operação Lava Jato, o dinheiro percorreu empresas baseadas em paraísos fiscais -cinco delas controladas pela própria Odebrecht- até as contas dos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Jorge Zelada e o ex-gerente Pedro Barusco na Suíça e em Mônaco.
Estes documentos bancários embasaram a decretação de uma nova prisão preventiva de Marcelo Odebrecht e de outros executivos da companhia nesta sexta (24) e são a principal evidência material que sustentam a denúncia do Ministério Público Federal contra eles.
Havia dois métodos do repasse do dinheiro, segundo informou o Ministério Público da Suíça: 1) empresas controladas por subsidiárias da Odebrecht faziam transferências diretamente nas contas dos dirigentes da Petrobras na Europa; e 2) as offshores atribuídas à empreiteira repassavam recursos a outras empresas baseadas em paraísos fiscais que, logo depois, abasteciam as contas dos executivos da estatal.
Entre 2006 e 2011, a offshore Smith & Nash Engineering recebeu depósitos de US$ 45,4 milhões de quatro empresas do grupo Odebrecht (Odebrecht Serviços no Exterior, Construtora Norberto Odebrecht SA, Osel Angola e Osel-Odebrecht Serviços no Exterior).
No mesmo período, a Smith and Nash Engineering foi a fonte de US$ 6,8 milhões depositadas diretamente em duas contas de Paulo Roberto Costa na Suíça.
Em 2009, a Arcadex Corporation recebeu US$ 25,2 milhões de duas empresas da Odebrecht no exterior. A Arcadex depositou US$ 435 mil para uma conta de Renato Duque e 63,6 mil euros em uma conta Tudor Advisory, atribuída ao ex-diretor da área internacional Jorge Luiz Zelada.
A offshore Havinsur, autora de uma transferência de US$ 565 mil em 2010 a uma conta atribuída a Renato Duque em Mônaco, tinha como controladora uma empresa do grupo Odebrecht, segundo a Suíça.
TRIANGULAÇÃO
Segundo a Procuradoria, o segundo método de pagamento aos ex-dirigentes da Petrobras envolvia uma triangulação supostamente para dificultar o rastreamento do dinheiro.
Entre 2006 e 2011, cinco empresas offshores que os suíços apontam a empreiteira como controladora repassaram US$ 211,5 milhões para três empresas: Constructora Internacional del Sur, Klienfeld Services e Innovation Research Engineering.
Em 2009, a Del Sur depositou US$ 3 milhões para contas de Costa, Duque e Barusco. A Klienfeld e a Innovation Research Services são apontadas como repassadoras de US$ 6,8 milhões milhões para Costa e Barusco entre 2009 e 2011.
OUTRO LADO
A Odebrecht, que tem negado sistematicamente o pagamento de propina no exterior, ainda não se manifestou sobre as novas alegações do Ministério Público Federal.
Nesta quinta (23), após a Folha de S.Paulo revelar que a Odebrecht era investigada na Suíça, a empresa disse que solicitará informações às autoridades suíças para entender o alcance das investigações e o motivo pelo qual está sendo inserida no contexto de apuração de irregularidades cometidas por executivos da Petrobras.
Barusco e Costa, que firmaram acordos de delação premiada, admitem terem recebido o pagamento no exterior. Já Duque e Zelada, que estão presos no Paraná, refutam que sejam proprietários das contas bancárias na Suíça e em Mônaco apontadas como propina.
Os dossiês bancários fornecidos pelas autoridades dos dois países, entretanto, mostram cópias de documentos, como passaportes e comprovantes de residência, e assinaturas dos dois ex-diretores.
Nesta sexta, após a nova decretação de prisão dos executivos da Odebrecht, a empresa informou que "as defesas acabaram de tomar conhecimento e se pronunciarão oportunamente".