Em cartazes ou discursos nos carros de som, a sigla TCU - correspondente ao Tribunal de Contas da União - prevaleceu nos protestos deste domingo (16) na praia de Copacabana, na zona sul do Rio.
Os manifestantes descontentes com o atual governo acreditam que o caminho para o impeachment será pavimentado pelo TCU, que atualmente analisa supostas irregularidades nas contas da gestão da presidente Dilma Rousseff no ano de 2014.
No Rio, a Polícia Militar decidiu não divulgar estimativa de público nesta manifestação. A PM, subordinada ao Governo do Estado, deixou de fazer estimativa de público nos protestos recentes contra Dilma. Luiz Fernando Pezão (PMDB), governador do Rio, é aliado político da presidente.
Entre os organizadores de grupos envolvidos no protesto não houve consenso sobre o número de pessoas. Dois deles, União Contra a Corrupção e Vem Pra Rua, calcularam que 100 mil participaram da mobilização em Copacabana.
No auge, a aglomeração chegou a se estender por dez quadras em uma das pistas da Praia de Copacabana.
O protesto começou às 10h e acabou por volta das 13h30. A maioria defendia o impeachment. Houve ainda pedidos de renúncia da presidente, assim como menções a uma nova eleição presidencial.
Grupos favoráveis a uma intervenção militar também compareceram.
O juiz federal Sérgio Moro foi alçado ao status de celebridade. Cartazes e camisas exaltavam a atuação do magistrado na condução da Operação Lava Jato.
O designer Lucas Emanuel, 20, vendia a R$ 25 camisetas com o rosto do juiz e a frase "Vai Moro!". "Já vendi mais de 30", disse o rapaz.
A psicóloga aposentada Terezinha Xavier, 62, trazia um cartaz com a mensagem "Je suis Moro". "É o único que está dando moral para o país", elogiou ela.
Terezinha é a favor de novas eleições. Seu candidato seria o próprio Moro ou o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Eleitora do senador Aécio Neves (PSDB) na última eleição presidencial, ela descartou a opção de votar novamente no presidente do PSDB. "Ele não está mostrando o que poderia ser feito para melhorar".
Alexander Cardoso, 29, e sua mulher Michelle Fabrine, 28, defenderam o impeachment mesmo sem acreditar que seja esta a solução para os problemas econômicos do país.
"O impeachment não resolve a economia, mas moraliza as instituições", disse Cardoso, que trabalha no mercado financeiro.
O economista Antônio Paulo Carvalho, 71, estava entre aqueles que mencionaram o processo no TCU como argumento para o impeachment.
"Ela usou dinheiro público para se beneficiar na campanha", comentou Carvalho.
Já o engenheiro Luiz Fernando Novaes, 59, teme que o TCU seja influenciado por pressões políticas. "Afinal, é o governo quem nomeia os ministros do TCU", disse Novaes, que carregou um cartaz com os dizeres "Pizzaria TCU".
AGRESSÕES
O jornalista da TV Globo Paulo Renato Soares e sua equipe de reportagem foram hostilizados no protesto deste domingo (16), em Copacabana, quando entrevistavam defensores de uma intervenção militar.
Tudo começou quando os organizadores do grupo conhecido como Revoltados Online perceberam que o repórter da Globo falava com manifestante favorável a um golpe militar. Do alto do carro de som, eles começaram a insuflar a multidão ao redor contra a equipe da emissora.
Diziam ao microfone que aquela entrevista poderia deturpar o sentido da manifestação dando espaço a uma minoria que defende a intervenção militar.
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Foi a senha para que a equipe fosse hostilizada pelo público, sendo necessária a ação policial para proteger os jornalistas. A equipe da Globo acabou se afastando do local.
Em outro ponto da avenida Atlântica, a repórter Flavia Jannuzzi, da TV Globo, também chegou a ser hostilizada por manifestantes.
Houve ainda uma tentativa de linchamento de um homem que gritou "Viva Lula" no meio da manifestação. A polícia conseguiu evitar agressões.