Corrupção

Antena pegou 11 ligações de lobista do PMDB no dia da reunião com Eduardo Cunha

Os investigadores descobriram que Baiano, braço direito de Cunha, também participou do encontro

Do Estadão
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Publicado em 21/08/2015 às 12:20
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os investigadores descobriram que Baiano, braço direito de Cunha, também participou do encontro - FOTO: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A principal evidência de que o delator Júlio Camargo disse a verdade sobre a reunião que afirma ter tido com o deputado Eduardo Cunha, em 2011 - quando o presidente da Câmara teria exigido a propina de US$ 5 milhões - é o rastreamento das ligações do celular do lobista do PMDB na Petrobras Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Os investigadores descobriram que Baiano, braço direito de Cunha, também participou do encontro, no dia 18 de setembro daquele ano, um domingo, segundo Relatório de Análise 89/2015 da Procuradoria-Geral da República.

O presidente da Câmara foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal na quinta-feira (20). Como o deputado nega ter se encontrado com o delator e exigido a propina, a Procuradoria fez um impressionante trabalho de investigação, poucas vezes visto em casos de corrupção. Reconstituiu os passos dos personagens desse capítulo da Lava Jato - Baiano, Cunha e Júlio Camargo. O delator revelou que Cunha e Baiano o encontraram em um prédio comercial do Leblon no Rio, o Leblon Empresarial, situado na Avenida Ataulfo de Paiva.

O local exato da reunião foi uma das salas da empresa SIDUS Consultoria e Pesquisa, no terceiro andar, de propriedade de Sérgio Roberto Wayne, advogado e amigo de Baiano. O endereço se encontra dentro do ângulo de alcance da antena que captou os contatos de Fernando Baiano.

Segundo a Procuradoria, Fernando Baiano tinha as chaves do local. O rastreamento das ligações de Baiano mostra que pouco antes da reunião, entre 18h48 e 19h20, ele fez oito contatos via rádio - vinculado à empresa Hawk Eyes, de sua propriedade - com o proprietário do escritório.

Entre 19h e 21h, o lobista do PMDB fez outros três contatos pelo celular com um número cadastrado em nome de Weyne e Costa Advogados. As ligações foram captadas por antena de transmissão instalada na Avenida Ataulfo de Paiva. A Procuradoria sustenta que Baiano fez os contatos para avisar o dono do escritório que iria ocupar o imóvel naquele domingo.

A Procuradoria constatou que Eduardo Cunha, de fato, estava no Rio naquele fim de semana. Em consulta à cota para exercício de atividade parlamentar do peemedebista, no Portal da Câmara, obteve-se a informação que ele voou para o Rio.

No dia da reunião, o delator Júlio Camargo voou de Congonhas, São Paulo, para Santos Dumont, no Rio, às 17h30 - retornou para São Paulo às 21h. O motorista do delator, João Luiz Cavalheiro, confirmou que pegou Júlio Camargo no aeroporto e o levou em uma Toyota Camry preto, placas ELL-2211, até a esquina das avenidas Ataulfo de Paiva com Afrânio de Mello Franco. Aguardou por cerca de uma hora e meia e, depois, levou Júlio Camargo de volta ao aeroporto.

A Procuradoria afirma que Baiano e o deputado chegaram ao Leblon em uma Range Rover, placas EIV-8877. Devido à ausência de garagem no Leblon Empresarial, alguns condôminos alugam vagas do estacionamento mensal do prédio vizinho, Rio Design Leblon, com acesso pela Avenida Afrânio de Mello Franco.

O estacionamento confirmou aos investigadores a entrada no dia 18 de setembro de 2011, no horário da reunião da propina, da Range Rover, que está em nome da empresa Technis, de Fernando Baiano.

Segundo a Procuradoria, iniciada a reunião, Eduardo Cunha solicitou a Júlio Camargo o "pagamento da vantagem indevida". Cunha disse, segundo o delator. "Júlio, em primeiro lugar eu quero dizer que não é nenhum problema pessoal em relação a você. Acontece que o Fernando não me paga porque diz que você não o paga. Como o Fernando não tem capacidade de me pagar, eu preciso que você me pague."

A denúncia da Procuradoria contra Eduardo Cunha diz que o delator tentou se justificar, mas o deputado "foi irredutível". "Eu não sei da história e nem quero saber", teria dito Eduardo Cunha. "Eu tenho um valor a receber do Fernando Soares e que ele atrelou a você."

A denúncia afirma. "Então, Eduardo Cunha solicitou expressamente a quantia de cinco milhões de dólares faltantes." Nas palavras do delator, o presidente da Câmara disse. "Eu ainda tenho a receber 5 milhões de dólares em relação a este pacote."

"Em vista da pressão ficou estipulado que Júlio Camargo pagaria US$ 10 milhões, sendo US$ 5 milhões para Eduardo Cunha e US$ 5 milhões para Fernando Soares, o que foi aceito", diz a denúncia do procurador-geral da República Rodrigo Janot. "Eduardo Cunha, no entanto, solicitou a Júlio Camargo que tivesse preferência no recebimento do pagamento, pois tinha urgência."

A Procuradoria afirma que Júlio Camargo se valeu do auxílio do doleiro Alberto Youssef para operacionalizar o pagamento de parte da propina, "mediante formas de ocultação e dissimulação".

Fernando Baiano foi condenado a 16 anos de prisão na Justiça Federal do Paraná. Como não detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal, ele foi processado na 1ª instância. Na segunda-feira, 17, o juiz Sérgio Moro condenou Baiano e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro.

 

Defesa

Em nota, Eduardo Cunha disse que está absolutamente sereno e refutou "as ilações" das denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).


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