As três CPIs bancadas por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara promoveram nesta quinta-feira (27) uma investida em direção ao governo Dilma Rousseff, ao PT e às relações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empreiteiros. Numa das frentes, as comissões aprovaram requerimentos para ouvir executivos presos pela Operação Lava Jato, ex-presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES) e o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil de Lula). Em outra, interpelaram petistas próximos à cúpula da sigla.
Leia Também
Logo após ter anunciado seu rompimento com a gestão Dilma, Cunha deu prosseguimento à criação de duas CPIs contrárias aos interesses do governo e do PT: BNDES e Fundos de Pensão. Elas se somaram à da Petrobras, ativa desde o 1.º semestre.
Ontem, na CPI da Petrobras, além de Dirceu, foi convocado o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar. Em relatório da 14.ª fase da Lava Jato, a PF informou ao juiz Sérgio Moro que Lula conversou com Alexandrino em 15 de junho, quatro dias antes de o executivo e Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira, serem presos. Segundo o relatório, Lula estaria preocupado com "assuntos do BNDES". A PF não grampeou Lula. Os investigadores monitoravam Alexandrino.
Foram aprovadas ainda as convocações de César Rocha e Márcio Faria, executivos da Odebrecht; Jorge Zelada, ex-diretor de Internacional da Petrobras; Celso Araripe de Oliveira, ex-gerente da Petrobras; Fernando de Moura, considerado elo do PT e de Dirceu na Petrobras; e Elton Negrão, executivo da Andrade Gutierrez. Anteriormente, já havia sido convocado Marcelo Odebrecht. Dirceu será ouvido segunda-feira em Curitiba, onde está preso desde julho.
Novo alvo
Lula e a cúpula do PT avaliam que o risco de Dilma ter o mandato abreviado diminuiu nos últimos dias após ela ter se aproximado do empresariado. O alvo dos adversários agora é impedir que Lula e o PT cheguem em boas condições de disputa às eleições de 2018.
Segundo um interlocutor de Lula, o ex-presidente está convencido de que os objetivos dos adversários agora são enfraquecer a imagem dele próprio e "aniquilar" o PT até a eleição de 2018. A principal arma da oposição seria a Operação Lava Jato.
A CPI do BNDES ouviu ontem o presidente do banco, Luciano Coutinho. Nos questionamentos, o alvo prioritário foi Lula. Antes mesmo de Coutinho começar a falar, foi aprovada a convocação de todos os presidentes do banco de 2003 a 2015 - período que engloba os governos Lula e Dilma.
Dentre eles, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que comandou a instituição de novembro de 2004 a março de 2006. Na lista estão ainda Eleazar de Carvalho Filho (nomeado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso), Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa e Demian Fiocca.
'Interferência'
Em cerca de seis horas de depoimento, Coutinho teve de responder por mais de uma vez se Lula interferia no BNDES. Isso porque os parlamentares levantaram coincidências entre os países que receberam financiamentos do banco e aqueles que são alvo das ações do Instituto Lula na América Latina e na África.
"Nunca houve interferência do presidente Lula nesses processos junto ao BNDES. Questões relativas às atividades do ex-presidente devem ser esclarecidas pelo Instituto Lula, não posso responder pela instituição", afirmou Coutinho.
Questionado pelo deputado Caio Narcio (PSDB-MG) se mantinha relações com Fábio Luiz Lula da Silva, o "Lulinha", Coutinho disse não conhecer o filho de Lula. O presidente do BNDES negou também ter relações com o dono da UTC, Ricardo Pessoa, e José Dirceu.
A CPI dos Fundos de Pensão interrogou o diretor-presidente da Funcef, Carlos Alberto Caser. Os questionamentos abordaram desde o fato de ser filiado ao PT e defender o partido em sua página no Facebook até a influência de sua preferência partidária nos investimentos do fundo. A Sete Brasil, empresa alvo da Lava Jato e na qual o fundo mantém investimentos, foi citada.