O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega disse nesta sexta-feira (11) que o atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy, só deve deixar o cargo se a sua reputação estiver em jogo. "Ele não está lá para ser figurante. E agora, com o rebaixamento da Standard & Poor's, o ministro sai fortalecido, porque a crise econômica está ainda mais escancarada e ficou mais claro que não há solução sem o ajuste fiscal", afirmou, após palestra para membros da Ordem dos Economistas do Brasil.
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Para Mailson, o desafio de Levy, após a perda do grau de investimento pela S&P, é evitar novos rebaixamentos. "Eu acho que o Brasil só recupera o grau de investimento daqui a uns 10 anos. O governo tem a ilusão, e talvez o ministro Levy tenha também, de que, se houver reformas, o grau será restaurado rapidamente. Mas isso não vai acontecer. São raros os casos em que isso acontece. Em geral os países levam de 5 a 6 anos para restaurar o selo de bom pagador", disse.
Segundo Mailson, a retirada do grau de investimento do Brasil por parte da agência de classificação de risco S&P deve acionar o senso de urgência do governo e do Congresso para enfrentar a crise econômica. "Esse é o efeito positivo", pontuou.
"O cenário se agravou com o rebaixamento e vai continuar se agravando com o amadorismo do governo. Diante disso, nós não teremos outra saída nos próximos dois ou três anos que não seja aumentar tributos", disse. "As pessoas que são contra o aumento de impostos estão tendo uma reação irracional, emocional. São pessoas que não examinaram minimamente a situação fiscal", acrescentou.
Para ele, a melhor saída, especificamente, é trazer de volta a CPMF. "O governo precisa convencer a população de que essa é uma medida para evitar um mal maior. E se retomar a CPMF, não pode distribuir para Estados e municípios, porque aí vira despesa permanente. Tem que estabelecer um período para o término da cobrança, talvez até por meio de um plebiscito", sugeriu.
Em relação aos efeitos negativos da perda do grau de investimento, Mailson destaca uma saída adicional de capital e dos investimentos. "O rebaixamento aumenta o grau de incerteza e reforça a tendência de estagnação. A economia brasileira não volta a crescer em um patamar de 3% ou 4% antes de 2019", afirmou.
Apesar das críticas, o ex-ministro voltou a se posicionar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Não podemos criar o hábito de tirar um presidente sempre que ele se mostrar incompetente. O brasileiro precisa aprender a lidar com isso, identificando o erro e corrigindo o erro na eleição seguinte. Se a Dilma sair, o governo vai ficar paralisado por um bom tempo e isso será pior", explicou.