Corrupção

E-mails de Odebrecht revelam contatos no Itamaraty de Lula

Em setembro de 2008, em e-mail enviado pelo executivo Roberto Dias, da Odebrecht, ele cita conversa em Nova York com o então presidente

Do Estadão Conteúdo
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Publicado em 06/10/2015 às 16:30
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Em setembro de 2008, em e-mail enviado pelo executivo Roberto Dias, da Odebrecht, ele cita conversa em Nova York com o então presidente - FOTO: Foto: Heinrich Aikawa Instituto Lula
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As trocas de e-mails do maior empreiteiro do País, Marcelo Bahia Odebrecht, o 'MBO', e seus executivos durante os governos de Luiz Inácio da Silva (2003/2010) revelam os contatos com o primeiro escalão do presidente petista nas tratativas de negócios internacionais da empreiteira e até mesmo em suas desavenças em outros países, como no Equador.

Em setembro de 2008, em e-mail enviado pelo executivo Roberto Dias, da Odebrecht, ele cita conversa em Nova York com o então presidente, com o ministro das Relações Exteriores à época, Celso Amorim, o 'CA', e com o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, o 'MAG'. O tema se referia aos problemas que a empreiteira enfrentava com o governo do Equador. Os dois membros do governo foram os interlocutores do assunto.

"Após o jantar oferecido a Lula aqui em NYC conversei separadamente com Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. Ambos tomaram a iniciativa de perguntar como estava o affaire Equador. Ficaram desapontados porque as informações que detinham indicavam o caminho da solução do problema", escreveu o executivo.

Naquela oportunidade, Lula foi a Nova York para lançar o programa Brasil Sensacional, do Ministério do Turismo, cujo objetivo era aumentar o fluxo de turistas estrangeiros para o País.

Os e-mails que denotam proximidade da maior empreiteira do País com o Itamaraty foram anexados dia 25 de setembro ao inquérito da Lava Jato. Eles foram resgatados pela Polícia Federal durante missão de buscas e apreensões realizadas na Erga Omnes, desdobramento da Lava Jato que pegou as duas maiores construtoras do País, Odebrecht e Andrade Gutierrez. A Erga Omnes foi deflagrada em 19 de junho.

A análise das correspondências confirma a proximidade de Marcelo Bahia Odebrecht com o governo Lula, seus assessores e ministros

Em um dos e-mails, o então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, "afirma que esteve com os presidentes (do Brasil e da Namíbia) e que 'PR fez o lobby', provável referência ao Presidente Lula", registra análise prévia da PF.

Miguel Jorge havia sido procurado para interceder em nome da Odebrecht em encontro do presidente Lula com o presidente da Namíbia, em visita ao Brasil em 2009.

Na série de e-mails em que os executivos falam sobre as conversas com o ministro Celso Amorim e com o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia sobre o Equador, novamente é feita menção a tratativas do empreiteiro com o ministro Miguel Jorge.

"Informei Mauro Couto que MBO pretende ligar para Miguel Jorge para o atualizar do andamento e de iminente desenlace", acrescenta Roberto Dias. "MAG e Celso acham difícil RC aceitar estas condições antes do plebiscito, e deveríamos ganhar mais tempo negociado para discutir estas questões após as eleições. Em se tratando de um mote de campanha eleitoral de especial interesse de RC. Eu argumentei que não via viabilidade na postergação sugerida."

"RC" a que se referem na conversa é Rafael Correa, presidente do Equador. O 'affaire' foi a decisão do presidente equatoriano tomada naquele ano de expulsar do país a Odebrecht e confiscar seus bens. Ele militarizou obras que era tocadas pela empreiteira, que se recusava a pagar uma indenização por supostos danos que causaram a paralisação da hidrelétrica San Francisco, a segunda maior do país.

A Odebrecht tocava no país, além de uma nova hidrelétrica, projetos de irrigação e um aeroporto em Tena. "Devido ao tumulto no final do jantar só foi possível cumprimentar o PR. Sei que MAG e CA estão mantendo o PR informado porque ambos fizeram referência a conversas recentes sobre Equador com o PR", conclui o executivo da empreiteira. Os e-mails foram copiados à secretária de Odebrecht, Darci Luz, que recebia a maior parte das correspondências do empreiteiro.

O Relatório de Análise da PF 438/2015, assinado pelo agente Marcos Hiroshi Inoue, foi anexado dia 25 aos autos da Lava Jato pelo delegado Eduardo da Silva Mauat. "Aparentemente, os executivos da Odebrecht mantêm contatos com autoridades da embaixada a fim de colocar em pauta, no encontro, assuntos de interesse da construtora", registra análise da PF, ao tratar de uma visita de Lula a Angola.

Com o título "Agenda Lula - URGENTE", há citação a contatos no Itamaraty e o pedido para inclusão de Emílio Odebrecht - pai de Marcelo - em agenda do presidente na visita a Angola, em 2007. "Rubio já fez os primeiros contatos junto ao Ita e me informou que é tradição: cabe ao anfitrião a escolha dos 20 convidados."

Na visita, nos dias 17 e 18 de outubro, o empresário monitora a agenda do presidente Lula, lembra que da última vez o pai, Emílio, foi um dos convidados e reitera o pedido para incluir representante da empresa no evento. "Importante incluir Emílio no almoço. Novamente, segundo o Embaixador, é o lado daí quem decide."

A reportagem do Estadão tentou contato com o ex-ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) e com o assessor especial da Presidência (Governo Lula), Marco Aurélio Garcia, em diversas oportunidades, desde a semana passada, mas não houve retorno.

Na semana passada, quando teve seu nome mencionado na Lava Jato, o ex-ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) foi enfático. "Eu fazia lobby pra todas as empresas brasileiras.", disse, lembrando que a primeira visita da rainha da Inglaterra ao Brasil nos anos 70 foi especificamente para vender aviões ingleses, de uma empresa que depois foi uma das que formaram a Airbus. Acho que esse é o papel dos governantes, de realmente se esforçarem para ter um comércio exterior maior para os seus países."

 

 

Defesa

"A Odebrecht Infraestrutura esclarece que os trechos de mensagens eletrônicas divulgados apenas registram uma atuação institucional legítima e natural da empresa. No caso do Equador, o executivo apenas atendeu a um pedido de informação feito pelas autoridades. A empresa lamenta a divulgação e interpretações equivocadas sobre mensagens sem qualquer relação com o processo em curso."

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