Decidido a articular a bancada do PT na Câmara para barrar a abertura de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta quinta-feira (15) com deputados do partido que assinaram pedido de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem Lula propõe cessar fogo.
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O ex-presidente recebeu 12 deputados do PT no hotel em que está hospedado em Brasília. Seis deles assinaram a representação, protocolada por PSOL e Rede na Comissão de Ética da Câmara, que pede a cassação de Cunha.
Entre eles, Maria do Rosário (RS), Valmir Assunção (BA), Wadih Damous (RJ), Afonso Florence (BA), Margarida Salomão (MG) e José Pimenta (RS).
Lula cobrará dos deputados união em torno do governo, incluindo esforços para aprovar as medidas do ajuste fiscal e, principalmente, de tentar "aliviar" para Cunha no Conselho de Ética da Câmara, evitando que o pedido de cassação do peemedebista vá a plenário.
Oficialmente, o PT liberou a bancada e 32 dos 64 deputados assinaram o documento.
Lula e a direção do partido, porém, pediram nos bastidores que os petistas não assinassem a representação, em estratégia casada com o Palácio do Planalto em propor um armistício na relação conturbada com o presidente da Câmara, que ainda tem a prerrogativa de deferir ou arquivar pedidos de impedimento de Dilma.
Antes de embarcar a São Paulo, na noite desta quinta, Lula deve se reunir com a presidente Dilma no Palácio da Alvorada.
O ex-presidente chegou na noite de quarta-feira (14) a Brasília, quando se reuniu com advogados para traçar a linha de seu depoimento ao Ministério Público.
Na manhã desta quinta, falou voluntariamente ao MP no inquérito que o investiga por suspeita de tráfico de influência em favor da Odebrecht.
Segundo informações do Instituto Lula, o ex-presidente afirmou "jamais ter interferido" em qualquer contrato celebrado entre o BNDES e empresas privadas. Lula teria destacado, de acordo com assessores, "que sempre procurou ampliar as oportunidades de divulgação dessas companhias no exterior, com vistas à geração de empregos e de divisas para o Brasil".
A suspeita é que Lula tenha exercido influência para que o BNDES financiasse obras de Odebrecht, principalmente em países da África e da América Latina. A empreiteira bancou diversas viagens de Lula ao exterior depois que ele deixou a Presidência da República.
As investigações correm na Procuradoria da República no DF em sigilo. O Código Penal fixa como tráfico de influência "solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função", prevendo pena de dois a cinco anos de reclusão.