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O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, telefonou nesta terça-feira (20), bem cedo para a presidente Dilma Rousseff, na Finlândia, e pediu a ela que não provocasse mais o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao responder a perguntas dos jornalistas que acompanham sua viagem internacional.
Na conversa, Wagner alegou que o ambiente político em Brasília estava muito tenso e disse que qualquer declaração poderia ser mal interpretada, aumentando ainda mais a temperatura da crise política.
Dilma avisou, porém, que não poderia deixar sem resposta a última declaração de Cunha, rotulando o governo de corrupto. Wagner assentiu, mas pediu cuidado para que ela não caísse em "cascas de banana".
Na segunda-feira (19), o vice Michel Temer jantou com Cunha, no Palácio do Jaburu, e perguntou sobre a disposição dele em aceitar o pedido de impeachment apresentado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. O presidente da Câmara repetiu que não via fundamentos jurídicos para o afastamento de Dilma.
No Palácio do Planalto, porém, Cunha é chamado de "fera ferida" e ministros avaliam o seu comportamento como "imprevisível". Acusado pelo lobista Fernando Baiano de desviar recursos da Petrobras, o deputado não gostou de ver Dilma lamentar, no domingo, que "um brasileiro" tivesse o nome envolvido no escândalo das contas secretas na Suíça.
Cunha reclamou com Temer e até com Wagner do tom adotado por Dilma e, como resposta, acusou o governo de protagonizar "o maior escândalo de corrupção do mundo".
A partir daí, seguiu-se um pingue-pongue de estocadas públicas. Mesmo dizendo ontem que não comentaria "as palavras" do presidente da Câmara, Dilma fez questão de afirmar que seu governo não está envolvido em corrupção. "Não é o meu governo que está sendo acusado", reagiu ela. "As pessoas envolvidas estão presas, e não é a empresa Petrobras que está envolvida no escândalo. São pessoas que praticaram corrupção." Irônico, Cunha rebateu: "Ué, eu não sabia que a Petrobras não era do governo."
A assessoria da Casa Civil negou o teor da conversa de Wagner com Dilma, confirmada por outros dois interlocutores do ministro Além disso, Wagner tinha outro encontro marcado com o presidente da Câmara, na tentativa de jogar água na fervura da crise.
Na prática, o Planalto não sabe mais como agir com Cunha, que mantém pairando sobre a cabeça de Dilma a espada do impeachment. A avaliação interna é que, se ele aceitar nesta terça-feira o requerimento dos juristas, com o pedido de afastamento, a Advocacia Geral da União (AGU) recorrerá, mais uma vez, ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O governo também está preocupado porque, enquanto durar a crise, não consegue votar as medidas necessárias para o ajuste fiscal no Congresso. O cenário ideal para o Planalto seria a renúncia de Cunha - mas ele repete como mantra que não tomará essa atitude.
Um aliado sugeriu a Cunha que adotasse a saída "a la Renan" para se defender. Ele recusou. Em 2007, acusado de usar recursos de uma empreiteira para pagar despesas pessoais, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tirou uma licença de 45 dias. Mesmo assim, a crise não arrefeceu e ele foi obrigado a renunciar ao comando do Senado, para não perder o mandato. "Renan era senador; eu sou deputado. E meu nome é Eduardo", disse Cunha ao jornal O Estado de S. Paulo.
Nos bastidores, o comentário é que a estratégia de Cunha é ganhar tempo porque, entre outras coisas, ele espera que Renan, outro alvo da Operação Lava Jato, também seja denunciado pela Procuradoria Geral da República ao Supremo.
Resta saber qual será a posição do PT nessa confusão, uma vez que Renan é aliado do Planalto e Dilma pode ficar nas mãos dele para barrar o impeachment no Senado, caso o processo comece a tramitar na Câmara.
Impeachment
Cunha chegou por volta das 10h desta quarta-feira à Câmara e disse que deve receber mais tarde o grupo de parlamentares da oposição que apresenta, nesta manhã, um novo pedido de impeachment da presidente Dilma.
O novo pedido é assinado pelos juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. O documento usa como justificativa a prática de pedaladas fiscais no ano passado e também neste ano - além de anexar decretos presidenciais que aumentam gastos sem anuência do Legislativo.