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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira (23) que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), tenha o direito de se defender das suspeitas no âmbito da Operação Lava Jato.
Em entrevista à rádio Metrópole FM, da Bahia, Lula afirmou que as acusações contra Cunha "estão sendo apuradas" e que, "se for culpado, ele vai pagar" por quaisquer crimes que tenha cometido.
"Acho que Eduardo Cunha tem que ter todo o direito de defesa que quero para você, que quero para Dilma, que eu quero para mim, que quero para todo mundo. Ele está sendo acusado, está sendo apurado, ele tem que ter apenas o direito de se defender como quero para todo mundo neste país", disse o petista.
Lula negou que tenha feito qualquer acordo para salvar o mandato de Cunha, mas destacou a legitimidade das negociações para fazer avançar as pautas de interesse do governo no Congresso.
"Enquanto ele for presidente da Câmara, ele vai comandar a pauta do Congresso. Então, em vez de ficar querendo afundar ele [sic], quero que ele coloque as coisas [projetos] em votação" afirmou.
Lula aproveitou uma fala do jornalista, que disse que "a oposição está doida para envolver o senhor na investigação da Lava Jato", para dizer que a oposição está no seu papel de "querer matar seu adversário". O petista não falou, porém, sobre as acusações contra ele.
Em depoimento de delação premiada, o lobista Fernando Soares, o Baiano, investigado na Operação Lava Jato, afirmou que Lula participou de reuniões com um amigo e um empresário sobre contratos da Petrobras.
Segundo Baiano, o lobista que acompanhou Lula na reunião foi o pecuarista José Carlos Bumlai, que vem sendo acusado de envolvimento em suborno e de agir em nome do ex-presidente.
O delator já acusou Bumlai de ter recebido R$ 2 milhões em propina, que seriam destinados a uma nora do ex-presidente Lula. Tanto o petista quanto o pecuarista negam peremptoriamente as acusações.
Como a Folha de S.Paulo publicou nesta sexta, Bumlai afirma que os recursos que recebeu do lobista foram um empréstimo para pagar empregados de suas fazendas.
APOIO A DILMA
O ex-presidente, que foi à Bahia para participar de um evento sobre educação nesta sexta, afirmou que vai percorrer o país para combater "o ódio e a intolerância" ao PT e à presidente Dilma.
Disse ainda que, "mesmo na discordância", será um apoiador da presidente "pelo carinho e respeito" que tem por ela.
Segundo Lula, não há fundamento jurídico nos pedidos de impeachment da presidente. Disse que Dilma foi "obrigada pela circunstância" a fazer o ajuste fiscal e que o governo responderá às acusações de estelionato eleitoral "quando o país voltar a crescer".
"Na campanha, Dilma dizia que ajuste era coisa de tucano e que não ia mexer no direito do trabalhador. Mas foi obrigada pela circunstância política a fazer um ajuste."
Sobre a relação com o Congresso Nacional, Lula elogiou a troca no comando da articulação política e afirmou que o ministro Jaques Wagner [Casa Civil], assim como ele, gosta de conversar.
E comparou Aloizio Mercadante, atual ministro da Educação e ex-gestor da Casa Civil, à própria Dilma, pois ambos seriam "técnicos" e com "um estilo diferente".
"O estilo dela e de Mercadante são parecidos. Mercadante é quase um gênio, muito inteligente. Dilma é muito inteligente. Mas o estilo de fazer política é diferente", afirmou.
JOAQUIM LEVY
O ex-presidente negou que defenda a saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda, afirmando assumir que tal postura seria "desleal" com Levy e com a presidente Dilma.
"Não sou presidente, não tenho direito a reivindicar [a saída de um ministro]. Se Dilma quiser manter o Levy, mantém, se quiser tirar, ela tira. Vou continuar apoiando ela", disse.
Mesmo evitando críticas diretas à condução da política econômica, defendeu que o governo "não pode ficar parado" e afirmou que o país tem "um mercado interno extraordinário" disposto a comprar.
"Temos potencial para isso com uma boa política de financiamento, crédito para a pequena e média empresa, consignado para os trabalhadores. A única coisa que não pode é ficar parado", disse.
Ainda lembrou que no auge da crise econômica de 2008 conclamou a população a consumir para a "roda continuar a girar".