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Um dos delatores do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, o diretor financeiro da UTC, Walmir Pinheiro Santana, detalhou à Procuradoria-Geral da República um acerto que teria sido feito em 2014 entre Ricardo Pessoa, dono da empreiteira, e o então senador Gim Argello (PTB-DF). Pelo acordo, o parlamentar atuaria para que Ricardo Pessoa não fosse chamado a depor na CPI da Petrobras. Em contrapartida, Ricardo Pessoa faria contribuições em favor de pessoas indicadas por Gim Argello.
Segundo Walmir Santana, o acerto era 'um tipo de blindagem' para Ricardo Pessoa. "No início do mês de julho de 2014, Ricardo Pessoa se aproximou do declarante (Walmir Santana) e afirmou ter chegado a um acordo com Gim Argello no sentido de que ele, Ricardo Pessoa, fosse blindado em relação a CPI; que, em contrapartida, teriam que fazer doações no valor de R$ 5 milhões a pessoas que Gim Argello indicaria."
O delator explicou a transação. "No total foram pagos R$ 1,7 milhão em favor do DEM; que, em favor do PR, R$ 1 milhão; que, em favor do PMN, R$ 1,15 milhão; que, em favor do PRTB, também foram pagos R$ 1,15 milhão; que, os totais doados perfazem os R$ 5 milhões acordados com Gim Argello; que, o declarante, ao que se recorda, recebeu a totalidade dos recibos eleitorais."
O executivo prestou depoimentos em 4, 5 e 6 de agosto à Procuradoria-Geral da República. Em um deles, Walmir Santana contou que após a instalação da CPMI, 'existiam umas afirmações de que Ricardo Pessoa seria chamado para prestar depoimento'. O dono da UTC, segundo Walmir Santana, passou a procurar 'pessoas dessa CPMI' e chegou a Gim Argello, que teria 'uma certa influência' sobre Vital do Rêgo, então senador e presidente da CPMI e hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo Walmir Pinheiro Santana, Ricardo Pessoa reuniu-se algumas vezes com Gim Argello.
Transação
No depoimento, Walmir Santana declarou que o dono da UTC disse que 'seria procurado por uma pessoa de nome Paulo Roxo, que teria maiores instruções de como proceder'. "Ainda no início de julho de 2014, Paulo Roxo esteve com o colaborador e Ricardo Pessoa, ocasião em que Paulo Roxo passou a lista do primeiro pagamento que seria realizado em 10 de julho", declarou. "Seriam feitos depósitos para o PR (R$ 1 milhão), para o DEM (R$ 500 mil), PMN (R$ 250 mil) e para o PRTB (R$ 250 mil), totalizando R$ 2,5 milhões."
Walmir Santana disse que no primeiro encontro, Paulo Roxo estava acompanhado de 'uma pessoa de nome Valério'. "Paulo Roxo apenas falou que estava ali representando Gim Argello e fizeram o cronograma para os pagamentos; que para os demais pagamentos, Paulo Roxo afirmou que dois ou três dias antes de cada pagamento passaria as instruções."
Segundo Walmir Santana, houve mais um encontro com Paulo Roxo. Em meados de agosto, Paulo Roxo teria levado recibos eleitorais dos pagamentos já feitos e informado os demais partidos para os quais seriam transferidos recursos. Esta reunião teria ocorrido em 18 de agosto de 2014.
"Os pagamentos tratados na reunião com Paulo Roxo em 18 de agosto foram realizados em 25 de agosto; 15 de setembro e 1 de outubro de 2010; que, esses pagamentos beneficiaram o DEM (R$ 600 mil), em 25 de agosto; em 15 de setembro também em favor do DEM, no valar de R$ 600 mil e o último, em 1 de outubro, no valor de R$ 300 mil em favar do PRTB e R$ 300 mil em favor do PMN; que, houve pagamentos em 30 de julho e 15 de agosto; que, esses pagamentos decorreram de contatos telefônicos com Paulo Roxo que o instruiu a realizar, em 30 de julho, pagamentos em favar de PMN, R$ 300 mil, e PRTB, R$ 300 mil; que, em 15 de agosto, novamente foram feitos pagamentos nos valores de R$ 300 mil para o PMN e R$ 300 mil em favor do PRTB."
O delator afirmou que não sabe se outras empresas também pagaram a Gim Argello para evitar que empresários fossem chamados para a CPI ou CPMI. "Ricardo Pessoa não foi chamado a depor perante a CPMI ou CPI da Petrobras em 2014", disse.
Procurados na sexta-feira (18), por e-mail, o ex-senador Gim Argello, o PMN e o PRTB não retornaram à reportagem.
Defesas
O DEM afirmou que, "não há qualquer relação do Democratas com o ex-senador Gim Argello, que ademais sempre integrou partido da base do governo ao qual o DEM faz oposição".
Ainda segundo o partido, "em 2014, o Democratas recebeu da UTC o valor de R$ 1 milhão (um milhão de Reais), doação que foi devidamente declarada na prestação de contas do partido junto ao TSE".
Já o Partido da República (PR) informou que, "por norma", não comenta "assuntos relacionados a conteúdos ou procedimentos de investigação do Ministério Público".