A presidente Dilma Rousseff descartou taxativamente nesta sexta-feira a possibilidade de renunciar ao cargo e garantiu, ainda, que seria "um grande orgulho" ter seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, em seu gabinete, em declarações dadas enquanto ele é alvo de investigações por corrupção.
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Dilma falou antes de um fim de semana crucial para seu futuro. No sábado (12), o partido aliado PMDB debaterá sua desvinculação do governo ou não e, no domingo, manifestações pedindo a saída da presidente serão celebradas em todo o Brasil.
"Ninguém tem o direito de pedir a renúncia de presidente legitimamente eleito sem dar elementos comprobatórios de que eu tenha, de alguma forma, ferido qualquer inciso da Constituição. Não sairei deste cargo sem que haja motivo para tal", declarou Dilma, em Brasília, após compromisso no Palácio do Planalto.
"Quem quer a minha renúncia tem que proceder de acordo com a Constituição. Solicitar a minha renúncia é reconhecer que não há base real para pedir minha saída do cargo", continuou a presidente, falando à imprensa.
Ao ser consultada por jornalistas se se sente resignada e abriria mão da Presidência, ela respondeu:
"Eu não estou resignada diante de nada e não tenho essa atitude diante da vida. Acho que essa onda de boatos não contribui e cria uma crise política negativa para a economia brasileira. Temos todas as condições de fazer a retomada. Pelo menos testemunhem que eu não tenho cara de quem vai renunciar", afirmou Dilma, que tem magros 11% de apoio popular.
A recusa da renúncia foi uma resposta ao adversário derrotado nas eleições presidenciais de 2014, senador Aécio Neves (PSDB), que esta semana sugeriu a Dilma que adote um "gesto magnânimo" e renuncie.
"Quem sabe, num gesto magnânimo, num gesto generoso para com o país, a Presidente da República, compreendendo que perdeu as condições mínimas de governar, permita que, com a sua renúncia, o Brasil inicie uma nova etapa na sua história", disse Aécio Neves, em pronunciamento no Senado.
Dilma enfrenta a ameaça de um processo de impeachment no Congresso por suposta maquiagem das contas públicas e ainda espera que o Tribunal Superior Eleitoral analise a denúncia de financiamento ilegal que teria beneficiado sua campanha à reeleição.
Tudo isto acontece em um momento em que o país se encaminha para sua pior recessão em um século.
"ABSURDO"
As ações da Justiça contra o ex-presidente Lula deram uma nova dimensão à crise.
Há uma semana, ele já tinha sido levado a depor em condução coercitiva na Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.
Esta semana, promotores de São Paulo denunciaram-no esta semana por ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica ao não declarar um luxuoso apartamento tríplex do qual seria proprietário. Legalmente, o imóvel pertence à empreiteira OAS, investigada no esquema de desvio de recursos da Petrobras.
O Ministério Público de São Paulo pediu, inclusive, a prisão preventiva de Lula, despertando o repúdio tanto do governo quanto da oposição.
Este pedido "ultrapassou todos os limites", condenou Dilma.
"É um ato que ultrapassa o senso comum e é um ato de injustiça. É um absurdo que um país assista calmamente a um ato assim contra um líder responsável por grandes transformações", declarou.
Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Equador, Rafael Correa, expressaram seu apoio ao ex-presidente brasileiro.
"Se o prenderem, Lula vai ser tão grande quanto Nelson Mandela", disse Maduro.
"Lula é um guerreiro e vencerá esta nova canalhice", afirmou Correa.
"GRANDE ORGULHO"
A presidente também falou pela primeira vez sobre a possibilidade de ter Lula em seu gabinete, uma hipótese que circulou na imprensa e nos corredores políticos. Como ministro, ele teria automaticamente foro privilegiado, embora Dilma não tenha dito se o nomeará para algum cargo.
"Seria um grande orgulho ter o presidente Lula no meu governo, porque é uma pessoa com experiência, grande capacidade política", disse.
Segundo versões da imprensa, Lula teria recusado a nomeação pois, ao entrar no governo na condição de investigado, o ato seria considerado uma confissão dos crimes atribuídos a ele.
Sua entrada no ministério daria, porém, combustível ao governo em meio à crise.
"Não há dúvidas de que é uma personalidade importante, com um peso ainda muito grande no cenário político nacional. Daria um peso ao governo em um momento em que está precisando de apoio, força, liderança", explicou à AFP, em Brasília, o analista político André Cesar.
Em meio a todo este panorama que combina recessão econômica, um governo politicamente isolado e uma classe política sacudida por casos de corrupção, manifestações foram convocadas para o próximo domingo em todo o país por diversos grupos e partidos da oposição. A expectativa é de participação maciça.
Segundo as mais recentes pesquisas de opinião, 60% querem o julgamento político da presidente, e um percentual semelhante, sua renúncia.