Se a operação Lava Jato completa dois anos nesta quinta-feira(17), uma outra mais antiga já está próxima de marcar um quarto de século e é vista como uma espécie de “irmã mais velha” da investigação comandada em Curitiba pelo juiz federal Sérgio Moro. Se trata da Mãos Limpas, que há 24 anos varreu o establishment político e econômico na Itália. O que foi de fato essa operação que durou quatro anos, o próprio Moro explica. "Constitui um momento extraordinário na história contemporânea do Judiciário. Iniciou-se em meados de fevereiro de 1992, com a prisão de Mario Chiesa, que ocupava o cargo de diretor de instituição filantrópica de Milão (Pio Alberto Trivulzio). Dois anos após, 2.993 mandados de prisão haviam sido expedidos; 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários,1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros”, afirmou o magistrado em artigo intitulado "Considerações sobre a Operação Mani Pulite", publicado em 2004.
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Mas a similaridade entre as duas vão muito mais além do que o grande número de prisões de empresários e políticos, como o juiz brasileiro frisou. A investigação italiana "revelou que a Ente Nazionale Idrocarburi(ENI), a empresa petrolífera estatal italiana, funcionaria como uma fonte de financiamento ilegal para os partidos". Algo que aqui no Brasil é descoberto e redescoberto a cada fase da operação pela Lava Jato, com contratos deficitários para Petrobras.
“ Outro ponto que aproxima é polêmico e bastante criticado na Lava Jato, pelos advogados dos suspeitos, por magistrados e já foi apontado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal STF Gilmar Mendes. Se trata da estratégia de investigação adotada na Mãos Limpas, que consistia em submeter no início do inquérito “os suspeitos à pressão de tomar decisão quanto a confessar, espalhando a suspeita de que outros já teriam confessado e levantando a perspectiva de permanência na prisão pelo menos pelo período da custódia preventiva no caso da manutenção do silêncio ou, vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confissão". O grande numero de prisões preventivas na Lava Jato seria justamente para fazer com que os investigados aceitassem assinar um acordo de delação premiada.
Uma preocupação dos próprios investigadores está no legado, nas mudanças que a Lava Jato irá trazer para o país. Teremos um país menos corrupto? A historiadora italiana Paola Fabrízio, especialista no tema, destaca que uma resposta positiva não foi atingida pelos italianos. “A operação só é capaz de descobrir e impedir o crime do que está sendo investigado por ela. Nada pode ser transformado de forma duradoura se reformas, principalmente políticas, não forem feitas. A pressão popular no Brasil precisa ser feita para que após a Lava Jato as coisas não voltem ao que eram antes”, afirma. Segundo o último estudo realizado pela Transparência Internacional sobre a percepção do setor privado em relação à corrupção, a Itália está em 61º lugar entre 168 países analisados, próxima do Brasil(76ª posição) e bem distante de outras nações como Alemanha(10ª ) e Espanha(36ª) e Reino Unido (ambos na 10ª posição) e Espanha (36ª).