Em mensagem interna encaminhada a procuradores, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu que os integrantes do Ministério Público atuem de forma "técnica e serena" para atravessar o que chamou de "crise aguda e grave". Janot falou em manter a unidade, evitar a radicalização e não se contaminar por "paixões das ruas". Num apelo ao grupo, falou que os procuradores devem se manter alheios aos interesses partidários.
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"Não podemos permitir que as paixões das ruas encontrem guarida entre as nossas hostes. Somos Ministério Público. A sociedade favoreceu-nos, na Constituição, com as prerrogativas necessárias para nos mantermos alheios aos interesses da política partidária e até para a defendermos de seus desatinos em certas ocasiões. Se não compreendermos isso, estaremos não só insuflando os sentimentos desordenados que fermentam as paixões do povo, como também traindo a nossa missão e a nossa própria essência", escreveu o procurador-geral da República.
Janot é responsável pela investigação e acusação de políticos com foro privilegiado envolvidos na Operação Lava Jato. Com mais de 32 investigações abertas perante o Supremo Tribunal Federal (STF), seis denúncias oferecidas e uma ação penal aberta, Janot já foi alvo de críticas e se tornou desafeto do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"O Ministério Público não tem ideologia nem partido, de modo que nosso único guia deve encontrar-se no texto da Constituição da República e nas leis", escreveu Janot na carta.
A manifestação aos procuradores é feita no momento em que as investigações da Lava Jato impulsionam manifestações sociais e movimentos políticos. Na semana passada, após a divulgação de áudios interceptados que sugerem que a indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil foi uma tentativa de blindá-lo de uma investigação, parte da população foi às ruas contra a ida do petista ao ministério.
Sem menções a nomes, ele fala na carta em "apagar o brilho personalista da vaidade para fazer brilhar o valor do coletivo". Nos bastidores da alta cúpula do Judiciário, a decisão de Moro de divulgar os áudios interceptados é alvo de questionamentos. Janot fala ainda em manter a unidade sem "sem cizânias personalistas ou arroubos das idiossincrasias individuais".