Desde domingo (10), manifestantes contra a abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff ocupam um espaço no Largo da Batata, na zona oeste da capital paulista, com 18 barracas. Eles fazem parte do coletivo A Rua e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pretendem permanecer no local até domingo (17), quando se unirão a outros grupos sociais em um ato no Vale do Anhangabaú, no centro da cidade.
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“Nossa ideia foi pegar essa energia de mobilização contra o golpe – porque, na nossa opinião, esse pedido de impeachment que está tramitando no Congresso é um golpe – e resolvemos vir aqui para o Largo da Batata para chamar mais a atenção e fazer uma mobilização mais permanente até conseguirmos barrar o golpe, no domingo”, disse Josué Medeiros, do coletivo A Rua. “No sábado (16), vamos encerrar aqui nossas atividades para, no domingo, podemos nos juntar lá [no Anhangabaú] com a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo.”
Segundo Medeiros, os manifestantes e artistas que ocupam o Largo da Batata defendem, principalmente, a democracia. “Essa não é uma defesa do governo, mas da democracia. Mas sabemos que, se tiver um impeachment como esse, que é um golpe, a situação para quem luta ou quer transformar o Brasil vai piorar com mais repressão e mais cerceamento dos direitos e das liberdades”, ressaltou.
Esta é uma das ações do movimento, que também aproveita o espaço para a ação cultural Ocupe a Democracia. Um palco foi instalado no Largo da Batata e ali se apresentarão diversos artistas nos oito dias de ocupação. Neste domingo (11) quem se apresentou foi Chico César. São esperados ainda shows de Tulipa Ruiz, Tiê, Edgard Scandurra e Filipe Catto, entre outros. Na tarde desta segunda-feira (11), quando a reportagem da Agência Brasil visitou o local, houve apresentações dos artistas de circo Pakitos Cuecacuela e da cantora Iara Rennó.
“Somos contra o golpe e queremos radicalizar a democracia depois que barrarmos o golpe. Não estamos satisfeitos com a democracia que temos. Queremos mais: mais liberdade, mais direitos e mais condições de realizar nossos desejos e demandas”, acrescentou Medeiros.
PRÓ IMPEACHMENT
Há quase um mês, manifestantes que defendem a saída de Dilma ocupam a frente do prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista. Na tarde de hoje, a reportagem da Agência Brasil esteve na ocupação e contou 16 barracas, além de um espaço maior, uma tenda, onde eles mantêm uma geladeira e cadeiras para descanso. As barracas estão ocupadas desde o dia 16 de março e os manifestantes não têm uma data para deixar o local. Em média, segundo os manifestantes, cerca de 30 pessoas dormem na ocupação todos os dias.
Em alguns momentos, eles apitam ou seguram faixas pedindo o impeachment e buscando apoio de motoristas que passam pela Paulista. Alguns motoristas buzinam em apoio aos manifestantes.
O motoboy Rodrigo Ikezili é um do que ocupam a frente da Fiesp desde o dia 16 de março. Ikezili diz que não faz parte de nenhum movimento e que deixou a esposa e duas filhas em casa para participar do ato porque quer mudar o país. “Nosso foco é o impeachment, no primeiro momento. Depois, conversaremos com todos [da ocupação] para ver como vai ser”, disse ele.
“Aqui há vários grupos, mas temos um consenso. Tem os que têm a ideologia do intervencionismo, os 'impeachmentmistas', os que defendem a reforma geral na política. Minha opinião é que a reforma geral seria o mais importante. Há duas formas de acontecer a reforma política: ou pela intervenção ou uma nova eleição. Mas para mim, para minha ideologia, e falo isso por mim, a reforma política é necessária no país”, afirmou o motoboy.
Sobre a rotina na ocupação, Ikezili contou que eles vivem de doações. Os manifestantes, segundo ele, se alimentam com comidas que chegam das doações e são preparadas na casa de algum apoiador do movimento. Ele nega que a Fiesp esteja colaborando com o movimento. “A Fiesp cede apenas o banheiro e um ponto de luz. É o povo que dá a comida. É tudo doação”, ressaltou. “Nas duas primeiras semanas, eu intercalava [um dia dormia no local, outro não]. Agora estou efetivamente aqui.”
No próximo domingo, as pessoas que participam da ocupação vão se unir com os demais manifestantes que pedem o impeachment e convocaram um ato na Avenida Paulista.