O senador José Serra (PSDB-SP) usou na noite deste sábado, 23, o seu perfil no Facebook para pressionar seu partido a aderir oficialmente ao provável governo do atual vice-presidente Michel Temer (PMDB), ao contrário do que vêm afirmando diversos outros líderes da sigla. Segundo Serra, "seria bizarro o PSDB ajudar a fazer o impeachment de Dilma e depois, por questiúnculas e cálculos mesquinhos, lavar as mãos e fugir a suas responsabilidades com o País."
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A disputa dentro do principal partido de oposição à gestão de Dilma Rousseff (PT) sobre a adesão ou não ao novo governo, caso a abertura do impeachment da presidente seja aprovado no Senado, está dividindo as lideranças tucanas - ao menos em suas declarações públicas. Enquanto nos últimos dias nomes ligados ao presidente nacional da sigla, senador Aécio Neves (MG), e ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) defenderam por ora maior distância de Temer, neste sábado foi a vez de Serra deixar claro seu ponto de vista a favor da participação
"Eu concordo com o senador Aloysio Nunes Ferreira: se o futuro presidente Michel Temer aceitar os pontos programáticos do PSDB, o partido deve apoiar o governo. E se apoiar o governo e for convidado, deve participar do governo", escreveu o ex-governador paulista em seu perfil na rede social.
Ele se referia a uma declaração feita horas antes por Nunes, seu aliado e senador por São Paulo, que postou um vídeo também no Facebook em que praticamente dá como certa a participação do partido na gestão de Temer. De acordo com Nunes, o PSDB "não vai faltar com a sua responsabilidade", já que participou ativamente do processo de impeachment. "Agora, cumprida essa etapa, cabe a nós ajudarmos o novo governo com todas as forças, para que o governo (...) de Michel Temer possa ter condições de enfrentar a crise", disse.
Disputa
O discurso da dupla paulista marca uma posição contrária às lideranças tucanas que se opõem a uma conciliação imediata com Temer. Conforme revelou na sexta-feira o jornal O Estado de S. Paulo, há até uma ala no PSDB que defende a ideia de que membros do partido se licenciem e não disputem a Presidência em 2018 caso decidam assumir cargos no governo do atual vice.
"O PSDB tem compromisso e dever moral de tirar o Brasil da crise, mas tem um caminho próprio, que é o projeto apresentado ao País nas eleições de 2014, quando o senador Aécio Neves foi derrotado", afirmou, na ocasião, o secretário-geral do partido, o deputado Silvio Torres (SP). Alckmin e ao menos outros dois governadores tucanos, Pedro Taques (MT) e Beto Richa (PR), também se manifestaram contrários à adesão do PSDB à gestão Temer.
Aliados do vice-presidente, por sua vez, apontam que o tucano mais cotado para assumir um ministério importante - na área econômica, infraestrutura ou Saúde - é justamente Serra, por causa da sua boa interlocução com o peemedebista. Uma reunião da Executiva do PSDB para decidir a posição definitiva do partido sobre o assunto está marcada para o dia 3 de maio.