Muitos são os questionamentos sobre a postura que a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terão durante o eminente período em que a petista estiver afastada de suas funções como chefe do Executivo federal. Uma das respostas possíveis é dada pelo presidente do PT em Pernambuco, Bruno Ribeiro. O dirigente tem mantido conversas com a Executiva nacional da legenda e sinaliza como será a provável atuação de ambos nos próximos meses.
“Esperamos que Lula nos lidere neste caminho e luta pelo restabelecimento do mandato democrático. Também esperamos que Dilma não fique no Palácio da Alvorada (residência oficial da presidente) assistindo a tudo isso. Que ela tenha uma agenda, percorra o País e esteja junto dos movimentos sociais fazendo a defesa de seu governo”, afirma Bruno Ribeiro.
O presidente estadual do PT destaca que Dilma foi injustiçada e que a história fará justiça à petista em um curto período de tempo. Sobre Lula, ele reitera a aposta de que ele é nome do partido com as condições ideais para animar a militância contra o futuro governo. “Faremos algo mais profundo do que ser oposição. Nós não reconhecemos a legitimidade de um governo que surge nas circunstâncias de uma ruptura constitucional e com desrespeito à soberania do voto. A gente considera isso uma usurpação e uma deposição. Não é mera retórica. Todos no PT estão convencidos disso”, diz.
Se Lula estiver de fato no front político, o movimento será duplo: debilitar a gestão Temer e se fortalecer como candidato à presidência da República. “As pesquisas e a história mostram que Lula é o maior presidente que o País já teve e é uma liderança forte para qualquer disputa. Seja para 2018 ou para eleições antecipadas”, enfatiza o dirigente petista.
A visão otimista de Bruno Ribeiro sobre a força de Lula não é compartilhada pelo sociólogo Rodrigo Prando, do Instituto Mackenzie. “Se o PT continuar apostando suas fichas em Lula pode se frustrar. O ex-presidente vai ter que explicar de maneira judicial, inclusive, algumas questões. Ele não conseguiu nem ser ministro de Dilma... ele é popular, mas também tem uma rejeição alta. Alguns setores já olham para ele com uma perspectiva mais crítica”, pontua.
O doutor em Filosofia e professor de Ética e Filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romando, afirma que Lula é uma das raras lideranças políticas e populares do Brasil. No entanto, o especialista diz que ele pouco poderá fazer a favor do PT ou contra o governo Temer e seus aliados, como o PSDB e o DEM.
“Com os fatos recentes da Operação Lava Jato, Lula está na defensiva, sem maiores condições de agir, de liderar e propor alternativas ao governo Temer. Isto mostra um erro grave, interno ao PT: para garantir a hegemonia de Lula, nenhuma outra liderança nacional surgiu na sigla. O PT possui lideranças regionais, mas está tão carente de lideranças nacionais quanto os demais partidos”, analisa.
Para o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lula tem que ser cuidadoso para não passar a imagem de que está torcendo pelo “quanto pior melhor” no seu retorno à oposição. “Ele pode ser vítima da interpretação dos eleitores”, avisa.
O cuidado com a maneira de agir não deveria ser apenas de Lula, mas de todos os integrantes do PT. No entanto, a legenda volta à oposição com um “limitador natural”, nas palavras de Bruno Ribeiro. “O que está ocorrendo não é substituição de um governo. É tomada de poder por um grupo para dar um rumo diferente do que as urnas escolheram e para implementar uma mudança de modelo. Faremos mais do que oposição. É uma resistência. Só poderemos conversar tendo como pressuposto o estabelecimento do marco democrático”, adverte.
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