CRISE POLÍTICA

Para analistas, crise com Romero Jucá joga incerteza sobre futuro do governo

Na segunda-feira (23), o dólar fechou em alta de 1,41%, cotado a R$ 3,5732. A Bolsa recuou 0,79%, fechando aos 49.330 pontos - foi a quinta queda consecutiva

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Publicado em 24/05/2016 às 10:03
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Na segunda-feira (23), o dólar fechou em alta de 1,41%, cotado a R$ 3,5732. A Bolsa recuou 0,79%, fechando aos 49.330 pontos - foi a quinta queda consecutiva - FOTO: Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
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A primeira grande crise política do governo Michel Temer, que culminou no pedido de licença do ministro do Planejamento, Romero Jucá, teve reflexo direto no mercado financeiro na segunda-feira (23). O dólar fechou em alta de 1,41%, cotado a R$ 3,5732. A Bolsa recuou 0,79%, fechando aos 49.330 pontos - foi a quinta queda consecutiva. E o risco Brasil, medido pelo CDS (credit default swap, uma espécie de seguro contra o calote de um país), subiu 5%, ou 17 pontos-base, chegando a 362,5 pontos-base.

Para a consultoria de risco político Eurasia, que tem sede em Washington, o vazamento do áudio de conversa de Jucá com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado não deve reduzir a capacidade do presidente em exercício, Michel Temer, de avançar com a agenda de reformas no Congresso, mas mostra o potencial de risco que a Operação Lava Jato representa para o novo governo. No áudio, revelado pela Folha de S. Paulo, Jucá diz a Machado que é preciso mudar o governo para "estancar a sangria", referindo-se aos desdobramentos da Lava Jato. 

Em um relatório, João Augusto de Castro Neves e Cameron Combs, analistas da Eurasia, dizem que o vazamento representa o potencial primeiro escândalo da gestão Temer. "A Lava Jato permanece muito viva e constitui um risco-chave para o novo governo."

Para a consultoria, a propensão a investigar da força-tarefa da Lava Jato não deve diminuir com o afastamento da presidente Dilma Rousseff e pode seguir complicando a percepção que os brasileiros têm do governo de Temer. "Com um número de membros seniores do PMDB potencialmente implicados no escândalo, Temer enfrenta um risco real de que sua administração não seja percebida como uma solução para a crise política e econômica, mas uma continuação dela."

Volatilidade

Para operadores do mercado financeiro, a instabilidade política deve continuar a ser uma fonte de volatilidade. "Há um pouco de incerteza sobre o que pode vir pela frente, até com a possibilidade de mais políticos serem envolvidos na Lava Jato. Este mal-estar com Jucá acaba fazendo o mercado se proteger, comprando dólar", disse José Carlos Amado, operador da Spinelli Corretora. "O mercado começou a achar que essa crise com Jucá pode dificultar os ajustes necessários."

"O problema com o Jucá criou um mal-estar e o mercado usa isso como motivo para operar. Mas o fato é que não chega a ser algo novo. Todo mundo sabe que neste governo não tem santo", disse Sidney Nehme, economista da NGO Corretora, que chamou a atenção também para a nova proposta de meta fiscal do governo para 2016, de déficit de R$ 170,5 bilhões. "Um País que tem R$ 170,5 bilhões de déficit fiscal pode ter o dólar insensível a isso? Este ano precisa ser mesmo de mais desvalorização cambial", defendeu. "A saída para o Brasil está no dólar, está nas exportações."

Para João Paulo de Gracia Correa, superintendente regional de câmbio na SLW Corretora, a grande dificuldade do presidente em exercício, Michel Temer, é evitar seguir o caminho trilhado pela gestão anterior. "Ele não pode passar por um processo de impeachment e manter a linha do antigo governo", afirmou. "Tem de mudar, ter mais transparência e evitar colocar no governo pessoas envolvidas na Lava Jato." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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