Já eram mais de sete da noite da terça-feira (12), e o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seguia sentado na mesa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). De costas para o quadro "Tiradentes ante o carrasco", que decora o plenário, o peemedebista passou mais de quatro horas acompanhando a comissão, onde fazia as últimas tentativas de reverter seu processo de cassação. Mas entre acusações de rivais e estratégias de seus apoiadores para ganhar tempo, Cunha era esperado ansiosamente por um declarado fã mirim.
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Do lado de fora do plenário, observando pelo vidro escurecido da porta cercada por três seguranças, Gabriel, de seis anos, esperava o momento certo para abraçar e tirar uma foto com quem era, há até pouco tempo, um dos mais poderosos deputados a comandar a Câmara. As palavras são da própria mãe, a advogada Gláucia Oliveira: "É um sonho dele. É fã número um", disse.
A mãe conta que Gabriel soube de Cunha em um debate sobre o impeachment na escola. Curioso, ouviu do avô as histórias do político. Quando via os jornais, perguntava à mãe: "Por que estão mexendo com o Cunha?". Num tom de quem quer preservar a criança de um trauma, a mãe disse que evita conversar sobre as acusações que pesam sobre os ombros do peemedebista.
A família veio a Brasília para uma consulta médica. Desde que chegou à capital federal no último sábado, Gabriel insistiu para conhecer o parlamentar. Primeiro, foram à residência oficial, um dos últimos direitos de presidente da Casa dos quais Cunha ainda desfruta, depois de renunciar ao cargo. A visita, entretanto, não foi bem sucedida. Nessa terça-feira, Gláucia levou o garoto à Catedral de Brasília. "Ele foi rezar pelo Cunha", disse.
Pelo rádio, ouviram que a CCJ recebia o peemedebista para que ele apresentasse seus argumentos de defesa. Vieram rapidamente à Câmara, chegaram à porta da comissão e, depois de negociar com seguranças e assessores, conseguiram entrar no plenário. Acompanhado também da babá, Gabriel finalmente cumprimentou Cunha, trocou algumas palavras com ele e tirou fotos, que acabaram registradas por toda a imprensa.
A mãe prefere não opinar sobre o futuro do parlamentar. Para ela, que não se posiciona contra ou a favor da cassação, o cenário ainda está indefinido e há espaço para que o deputado afastado se defenda.