O impeachment sofrido por Dilma Rousseff (PT) não respinga apenas nela, mas também no seu partido, o PT, e na principal estrela da legenda, o ex-presidente Lula. Ele, que tem defensores ferrenhos e imbatíveis quando a questão é manter limpa a sua imagem, começa a ver o seu poder decair diante da crise política que se instalou no País. Alvo da Operação Lava Jato, o petista já foi levado coercitivamente para depor na Polícia Federal e é acusado de ser o dono de bens não declarados, como um sítio na cidade de Atibaia e um apartamento triplex no Guarujá, ambos em São Paulo. Neste último, Lula e a mulher, Marisa, foram indiciados por lavagem de dinheiro e corrupção pela PF.
Na época em que prestou depoimento à PF, Lula procurou se defender usando como escudo seu prestígio político para desqualificar as acusações e os acusadores. Afirmou que era uma tentativa de incriminá-lo e que estava, a partir daquele momento, mais disposto para retornar ao jogo eleitoral. Foi quando ele disse que poderia sim disputar a eleição de 2018 novamente para presidente.
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Todas essas questões deixaram ranhuras na imagem do ex-presidente. Mas tudo isso será capaz de comprometer o prestígio político do ex-líder sindical duas vezes eleito presidente? Apoiadores de Lula acreditam que ele sairá fortalecido desta crise, mas especialistas ouvidos pelo JC avaliam que os próximos passos da Lava Jato e o cenário econômico é que vão definir a força do petista para 2018.
“Eu acredito que Lula que chega agora, depois do processo de impeachment, muito mais enfraquecido, mas é um Lula que pode se tornar viável (eleitoralmente) à medida em que a situação política e econômica caminhe favoravelmente ao partido do governo afastado. Se o governo Temer não conseguir reverter a crise econômica e os escândalos de corrupção continuarem, Lula pode usar isso a seu favor para viabilizar sua candidatura e mais uma vez se apresentando como um messias político, como um salvador da pátria, como o imaginário político brasileiro gosta muito de apregoar”, afirma o cientista político Elton Gomes.
“Lula se desgastou muito com esse processo. O problema principal do PT é que, além de Lula ter se desgastado muito – e não só o governo de Dilma – a crise econômica e denúncias de corrupção envolvendo ele próprio desgastou a imagem dele. Lula não tem mais a força que tinha antigamente, mas ainda é a figura principal do PT. Por isso, que tem essa corrente que está trabalhando para que ele volte a presidir o partido”, avalia o pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Nuno Coimbra Mesquita.
OUTRO LADO
Do lado do partido, a visão é outra. “Lula é um fenômeno de resistência”, diz o ex-deputado por cinco mandatos Fernando Ferro (PT). A influência do ex-presidente, segundo Ferro, perdurará até 2018. “Mesmo que Lula não seja candidato, quem ele apoiar vai ter muita chance de vitória”, declara. Para ele, o movimento para tentar denegrir a imagem de Lula contribuirá para formar uma esquerda mais radical e mais combativa no País.
“Não vão matar o PT, nem vão matar Lula, não vão conseguir fazer isso. No máximo o que vão fazer é surgir vozes mais radicais que o PT no futuro político. A herança que o PT vai deixar vai ser um processo de radicalização. Lula ainda seria um caminho pacífico para esse processo todo, para a frente. A insistência em aniquilá-lo vai gerar uma revolta, porque Lula tem presença e tem eco em amplos setores, principalmente no povo pobre, mais simples desse País, que é a maioria da população”, completa Ferro.
Para o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) Rafael Araújo, apesar de sair abalado pela investigação da Lava Jato, Lula ainda é o nome mais forte do PT para 2018. “Enfraquecido em termos, porque a verdade é que até agora tem se percebido um esforço muito grande em incriminar o ex-presidente, mas sem muito sucesso. O enfraquecimento de Lula vai estar se de fato ele for impedido de se candidatar em 2018. Se de fato ele se transformar em réu e condenado, é aplicada a lei da Ficha Limpa. De resto, não. Ele está liderando as pesquisas de intenção de voto para 2018. De uma forma ou de outra, ele está numa posição confortável”, opina.
O cientista político Elton Gomes afirma que o PT deve usar a imagem de vítima, no caso do impeachment, para tentar se capitalizar politicamente. “Se eles (petistas) forem bem sucedidos em apresentarem Lula como perseguido, Dilma como injustiçada e apresentarem o processo como uma espécie de golpe, se tem condições de Lula chegar muito competitivo, porque ele é muito carismático e tem uma reserva eleitoral considerável”, considera.