Dados oficiais da Câmara dos Deputados comprovam que o então gabinete do presidente Jair Bolsonaro na Casa atestou a frequência normal de trabalho de sua ex-assessora Nathalia Melo de Queiroz, embora ela trabalhe como personal trainer em horário comercial no Rio de Janeiro.
A informação foi revelada pela Rádio CBN na segunda-feira (14), e confirmada pelo Estadão via Lei de Acesso à Informação. De acordo com informações prestadas pela Câmara, Nathalia cumpriu uma jornada de 40 horas semanais entre 19 de dezembro de 2016 e 14 de outubro de 2018, período em estava lotada no gabinete. Não há registros de faltas injustificadas ou licenças em seu nome. Seu salário era de R$ 10 mil mais benefícios.
Segundo as regras da Câmara, cabe ao deputado fazer o registro do controle de frequência de seus funcionários mensalmente, mas a atividade pode ser delegada a um assessor do gabinete. Assessores parlamentares podem atuar em Brasília, no Congresso Nacional, ou nas bases dos deputados em seus respectivos Estados
Leia Também
- Depósitos de Queiroz foram pagamento de empréstimos, afirma Bolsonaro
- 'Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro', diz Queiroz sobre caso Coaf
- Filhas e mulher de Fabrício Queiroz faltam a depoimento no MP sobre Coaf
- Após não aparecer para depor, Flávio Bolsonaro diz não ter como controlar Queiroz
- Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Queiroz aparece dançando em vídeo no hospital
- Vídeo de Queiroz dançando foi feito em 'raro momento de descontração', diz defesa
- Queiroz diz que dança no hospital foi para levar alegria à enfermaria
- MP pode oferecer denúncia sem ouvir Queiroz, diz procurador-geral
Queiroz citado no Coaf
Nathalia é filha do policial militar Fabricio Queiroz, ex-assessor do vereador e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No início de dezembro, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que um relatório do Coaf apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de Queiroz. O valor se refere ao período entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Nathalia também é mencionada no documento porque teria repassado ao pai, R$ 84 mil.
No fim do ano passado, Bolsonaro se irritou ao ser questionado sobre a atuação de Nathalia em seu gabinete e respondeu apenas que a pergunta deveria ser feita ao seu chefe de gabinete. O Estado questionou a Câmara oficialmente sobre quem era o responsável por atestar a frequência dos funcionários do gabinete de Bolsonaro, mas não obteve resposta.
A reportagem também questionou qual era o trabalho específico desenvolvido por Nathalia para o gabinete mas a Câmara respondeu apenas com as atribuições gerais do cargo de secretário parlamentar, que são: redação de correspondência, discursos e pareceres do parlamentar, atendimento às pessoas encaminhadas ao gabinete, execução de serviços de secretaria e datilográficos, pesquisas, acompanhamento interno e externo de assuntos de interesse do deputado, condução de veículo de propriedade do parlamentar, recebimento e entrega de correspondência, e outras atividades afins inerentes ao respectivo gabinete.